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Welcome to Utmark: boa vizinhança… o tanas!

Welcome to Utmark! Da próxima vez que alguém começar com “os países nórdicos são muito mais civilizados do que nós”, mostrem-lhes esta série. Dizem que somos todos iguais, que é nas pequenas coisas que diferimos. Eu acho que são essas mesmas pequenas coisas que nos fazem semelhantes. Utmark podia ser uma cidade perdida em qualquer parte do mundo.

Decidi abrir a caixa das séries internacionais. Porquê? Porque sou este ser inteligente e culto que tão bem conhecem. Não, carago! As séries que sigo, maioritariamente americanas, adiaram a filmagem de novas temporadas devido à pandemia.

Não sei qual é a medida dos noruegueses para o humor, mas ri na maior parte dos episódios. Não é um humor imediato, leva tempo. Há todo um build up que nos deixa naquele ponto de começar a sorrir até acabar numa gargalhada estridente. Especialmente nas desgraças. Há que adorar uma comunidade pequena. Um pastor alcoólico, um amante da natureza contrabandista, um xerife corrupto, um contrabandista travesti e uma miúda de 12 anos que parece ser o único adulto da pequena cidade nórdica de Utmark. A série é uma comédia negra, não é essas “dramédias”. Odeio dramédias. Quando chegam os Emmys, parecem aquele parente estranho que não sabemos em que mesa sentar nos casamentos e batizados.

Como qualquer história violenta que se preze, esta começa por causa de um cão imponente e lindo chamado Horagallis. Várias ovelhas mortas e dois homens que adoram os seus animais, mas não se suportam um ao outro. A história será sempre centrada no contraste entre Finn (Tobias Santelmann), o pastor de ovelhas norueguês, e Bilzi (Stig Henrik Hoff), o “sami”, arrastando pelo meio todo um colorido de personagens que crescem à medida que os episódios se sucedem, fruto de uma argumento sólido.

Pousem os telemóveis. Não é possível ouvir norueguês e estar a fazer scroll no Instagram, a menos que sejam fluentes na língua. Aconselho a verem com o som original, e não a versão dobrada em inglês. A inflexão das palavras na língua norueguesa acrescenta muito ao diálogo e irá perder-se noutra língua. Lembrem-se também que a Noruega não aderiu ao Euro. Portanto, há que fazer algumas contas. Basicamente, é só tirar retirar uma décima. Por exemplo, duas prostitutas albanesas custam, o par, 35 000 coroas norueguesas. Ora, isso dá aí uns 3500 euros. Parece muito? O salário mínimo na norueguesa é de mais de 20 euros por hora. Um miúdo de 16 anos não pode ganhar menos de 11 euros/hora num part-time. Dói, não dói? 35 000 coroas norueguesas por duas albanesas é quase grátis.

Claro que Utmark tem prostituição. E jogo. E crime! Daquele passional que só vemos na CMTV e acontece em pequenas aldeias. Quando uma mulher abandona um marido, um irmão se cansa do outro ou uma carrinha entra num pântano e não há ninguém a ver numa paisagem desértica do interior. Podem ver tudo isto e muito mais ao longo de 8 episódios.

Por muito que me tenha rido, a verdade é que Utmark deixa uma marca pesada, especialmente em maratona como eu fiz. Há tanta tristeza no ser humano. Não admira que a cultura de wellness, fitness, mindfulness, seja a mais próspera do nosso século. Nunca se tem dinheiro suficiente, amor suficiente ou, muitas vezes, apenas se está no lugar errado à hora errada. “Se queres ver Deus rir, conta-lhe os teus planos”. Todos nesta cidade o devem ter feito. Mas ninguém se riu.

Welcome to Utmark está disponível na HBO. O final da temporada, deixou espaço para a existência de uma segunda que ainda não está confirmada, mas é muito aguardada.

 

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