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In My Skin: a adolescência como utopia

O Filmin disponibiliza a partir de hoje a série britânica «In My Skin», a narrativa coming of age de uma adolescente que se tenta descobrir nas dores do crescimento e nas mentiras que conta. A série venceu já este ano dois Prémios BAFTA.

In my skin

Bethan Gwyndaff (Gabrielle Creevy) é uma adolescente, aparentemente, igual a muitas outras. Algo problemática, desde cedo se apresenta como uma mentirosa quase “patológica”, que sempre criou narrativas alternativas na hora de contar a sua história a amigos e professores. Com uma mãe bipolar, Katrina (Jo Hartley), e um pai irresponsável, Dilwyn (Rhodri Meilir), Bethan esconde todos esses temas das pessoas mais próximas, mostrando um lado mais “fixe”, ao mesmo tempo que, em segredo, tenta resolver todos os problemas que sufocam a sua vida familiar. Um desafio hercúleo para qualquer pessoa e, sobretudo, para uma jovem da sua idade.

Esta história é da responsabilidade de Kayleigh Llewellyn, também premiada com um BAFTA, que já tinha mostrado um trabalho bastante competente em séries como «Stella» ou «Killing Eve». «In My Skin», originalmente da BBC, é uma série desconfortável e provocadora, com um humor ácido e um lado psicológico bem trabalhado, que conquista a audiência pela sua coerência, mas não só. A visão sobre a vida complexa de Bethan, que se desconstrói diariamente sobre o olhar atento dos espectadores, é um verdadeiro murro no estômago.

In my skin

Entre apostas, gritos de revolta e necessidade de pertença, Bethan, Travis (James Wilbraham) e Lydia (Poppy Lee Friar) são uma janela aberta para a sua geração, com todos os seus defeitos e riqueza narrativa. A forma como o trio se move, ou como a protagonista Bethan se dissolve mesmo num meio dito seguro, é um dos principais elos que move a ação e a torna mais clara e transparente para quem observa. Além disso, outros temas como popularidade, sucesso no ensino e processo criativo, nomeadamente na escrita, completam o lado humano da série com uma interessante dose de drama escolar.

Não obstante, a storyline mais forte e divergente da trama é a que trata da relação da personagem principal com a mãe, claramente perturbada e incompreendida. Sem respostas certas ou decisões fáceis, «In My Skin» é uma lufada de ar fresco entre as estreias dos últimos meses.

 

Texto originalmente publicado aqui

 

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