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The Punisher: Frank Castle fez justiça à Marvel (e a Jon Bernthal)

Há mais de 40 anos que o Justiceiro procura fazer jus ao seu nome e vingar a morte da sua família. Das comics ao grande ecrã, e após uma breve passagem pela série «Demolidor», a personagem agora interpretada por Jon Bernthal conquista um novo espaço em nome próprio. «The Punisher» mora na Netflix desde o passado dia 17.

The Punisher

Jon Bernthal é presença habitual no pequeno e grande ecrã desde 2002. Depois de passagens breves, mas consistentes, por séries como «The Walking Dead» e «Demolidor», o ator assume-se, aos 41 anos, como o quinto anti-herói da Marvel a invadir o catálogo de originais da Netflix. Também longe de ser um estreante nas andanças da ficção, o The Punisher, Justiceiro em português, está de regresso e não vai olhar a meios para fazer alguns dos criminosos mais brutais — e improváveis — de Nova Iorque pagar pelos seus atos. Sim, esta não é tão-somente a história de vingança de Frank Castle (Jon Bernthal) pelo homicídio da sua família: é o fortalecimento da lenda que vimos nascer, mais recentemente, em «Demolidor».

Todo o legado do The Punisher é marcado por uma grande dose de sangue, mas também de ironia. Desde que nasceu nas páginas das comics, em 1974, que procura, incessantemente, fazer pagar aqueles que mataram a sua mulher e os filhos; independentemente da forma que a história assume. Por sua vez, Frank Castle é também um dos anti-heróis mais pragmáticos a habitar o imaginário dos fãs da Marvel e da DC: não tem qualquer pudor em chacinar quem se atravessar no seu caminho, e não perde tempo com contemplações interiores ou dúvidas existenciais. Tem apenas uma motivação e é esta que guia toda a sua ação, pelo que é difícil perceber se ainda sobra alguma coisa do ex-Marine que, regressado a casa, encontrou a continuação do pesadelo da sua vida militar. E isso persiste na nova incursão em «O Justiceiro».

The Punisher

Após «Punho de Ferro», esta é a segunda série da Marvel na Netflix a receber um rating de maiores de 18 e, provavelmente, a primeira a justificar a ousadia. Não há ‘paninhos’ quentes na hora de ilustrar a violência que pauta, desde a origem, o percurso de The Punisher. A realização é crua e, em vez de prolongar os momentos de carnificina ou de forçá-los pelo espectáculo, torna-os parte natural da narrativa — assim como o são na existência do Punsiher. Ao mesmo tempo, este lado cru da ação do anti-herói é acompanhado por uma contextualização competente que, nada dependente de diálogos ou interações, desmonta os fantasmas de Frank Castle. Isto para, assim como acontece com ele, nos lembrar que, ainda que os responsáveis pela morte da família já estejam todos (supostamente) mortos, é a família que continua a provocar nele reações, e a manter o pouco que resta do seu lado humano.

A vingança tinha começado no «Demolidor» e não tarda a ser encerrada no primeiro episódio. Ao invés de uma insistência neste campo, Frank Castle fecha esse ‘livro’, queima a sua mítica roupa, e segue uma vida banal — mas igualmente assombrada pelas suas memórias. E é aqui que «O Justiceiro» revela uma das suas principais mais-valias: esta não é apenas uma história de origem, até porque o personagem já tem um passado para os espectadores das séries Marvel, mas antes o retrato do crescimento possível depois desse capítulo crucial. Esse capítulo é vazio, com a dor a ser, mais uma vez, disfarçada com cansaço e força bruta. Isto até ‘Micro’’ (Ebon Moss-Bachrach) entrar na vida aparentemente secreta de Castle.

The Punisher

Produtor executivo de «Hannibal», Steve Lightfoot, o criador de «O Justiceiro», está acostumado ao sangue, mas afasta-se da espectacularidade visual com que Bryan Fuller, responsável por séries como «Hannibal», «Pushing Daisies» ou «Deuses Americanos», pauta o seu trabalho. O olhar de Steve é mais adulto e, sobretudo, mais direto, também porque estamos perante um universo totalmente diferente. Ao contrário do que aconteceu em séries como «Luke Cage» ou «Punho de Ferro», o argumento, a realização e Jon Bernthal ‘casam’ na perfeição e contribuem para uma série equilibrada. O ritmo é também mais rápido do que as anteriores, uma vez que se aproveita dos flashbacks e de histórias paralelas para alavancar a narrativa, mesmo quando Castle parece mais ‘parado’. As peças vão encaixando umas nas outras até ao clímax, e o renascimento constante do Punisher, ser inevitável.

«O Justiceiro» é uma surpresa agradável após um rol de desilusões das produções Marvel na Netflix, nomeadamente com as duas acima mencionadas e os primeiros episódios de «Os Defensores». Resta, portanto, perceber se as nossas expetativas, enquanto espectadores, baixaram ou se a série protagonizada por Jon Bernthal, que vem bem acompanhado — com atores como Ben Barnes, Amber Rose Revah ou Deborah Ann Woll —, tem realmente qualidade para justificar um lugar contínuo no universo Marvel. Até porque, com tantas séries prestes a serem lançadas e outras na gaveta, caso não haja uma seleção das produtoras, esta acabará por acontecer, inevitavelmente, do lado da audiência que, por mais que queira, não tem tempo para tudo…

 

O artigo foi publicado originalmente na edição número 55 da Metropolis.

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