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The Politician: diz que é uma espécie de alegoria política

It starts with a bang. Ryan Murphy, um dos criadores mais bem-sucedidos da última década (autor de séries como «American Horror Story», «Glee» ou «Pose»), foi uma das grandes contratações da Netflix – a par de Shonda Rhimes – e oferece logo na estreia uma das melhores séries da nova temporada televisiva. Inteligente, assertiva e cómica: «The Politician» tem os ingredientes certos para se afirmar como uma das melhores (ou até a melhor) apostas de Murphy. Já para a Netflix foi, sem dúvida, uma aposta ganha.

The Politician

Payton Hobart (Ben Platt, vencedor de um Tony por “Dear Evan Hansen”) tem uma certeza: um dia vai ser Presidente dos Estados Unidos. Não é um sonho, é um facto – defende acerrimamente. O caminho está traçado e Payton, apesar da tenra idade, sabe muito bem as etapas que tem de cumprir. Uma das metas cruciais começa no Secundário, pelo que Payton está determinado a ser eleito presidente e, para tal, tem de bater River (David Corenswet). Para quem pensa que estamos perante uma brincadeira de “miúdos”, desengane-se, já que apesar da tenra idade eles já têm a máquina de estratégia política a funcionar.

Na campanha de Payton, que conta com um trio de sucesso – McAfee (Laura Dreyfuss, colega do cast de “Dear Evan Hansen”), James (Theo Germaine) e Alice (Julia Schlaepfer) – a linha de montagem está em altas. Há marketing político, iniciativas pensadas ao pormenor e jogos de bastidores ao nível do mundo dos adultos. Os produtores Ryan Murphy, Brad Falchuk e Ian Brennan já foram muito felizes no universo escolar, com «Glee», mas agora querem trazer esse ambiente para falar e desconstruir assuntos bem mais sérios, como a influência de poder, as sondagens e a manipulação do “povo”.

The Politician

Como “cabeças de cartaz” desta comédia satírica estão Jessica Lange e Gwyneth Paltrow, a primeira já colaboradora histórica de Murphy, nomeadamente em «American Horror Story» e «Feud»; Lucy Boynton, que brilhou em «Bohemian Rhapsody» (2018) é outra das atrizes em destaque. Além da campanha escolar, «The Politician» mergulha nos meandros da vida dos ricos, que têm acesso facilitado a tudo, mas nem por isso têm menos problemas, e dos desafortunados, que tentam – nem sempre por meios “bonitos” – atingir outros patamares de riqueza. Todavia, e neste jogo alegórico que Murphy tão bem consegue construir, a crítica é mordaz e apurada: enquanto as facções de poder se desafiam, quem tem o poder do voto – teoricamente essencial – é a parte mais frágil deste conflito. Um mero peão, reduzido a números de vantagem ou desvantagem no percurso para a eleição.

Há muita previsibilidade em «The Politician», é certo, sobretudo no que diz respeito aos vícios narrativos de Murphy, mas tal não põe em causa a qualidade da série. A realidade alternativa e concentrada que a série cria é apenas uma desculpa para criticar temas marcantes da sociedade atual, como o escândalo de quem “paga”, ainda que indiretamente, para garantir um lugar na universidade; a máquina por detrás de um político, com o discurso pensado ao pormenor; a utilização da dor como motor político (aproveitamento emocional), para garantir mais votos; a propagação de notícias falsas e de casos polémicos que envolvem os adversários.

The Politician

Uma série a não perder, «The Politician» conta com oito episódios na primeira temporada, cada um com cerca de 40 minutos. No elenco, entre promessas e certezas, encontram-se Ben Platt, Gwyneth Paltrow, Jessica Lange, Zoey Deutch, Lucy Boynton, Bob Balaban, David Corenswet, Dylan McDermott, January Jones, Bette Midler e Judith Light, entre outros.

 

Texto originalmente publicado na Metropolis

 

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