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T2 Trainspotting: o Obi-Wan Kenobi, o Rumplestiltskin e o Sherlock entram num bar…

“Não estás a ficar mais novo, Mark. O mundo está a mudar. A música está a mudar. Até as drogas estão a mudar. Não podes ficar aqui o dia todo a sonhar com heroína e Ziggy Pop”, dizia Diane (Kelly Macdonald). E tinha razão. Muita coisa mudou nos 20 anos que separam «Trainspotting» (1996) da sua sequela, «T2 Trainspotting» (2017), que chega dia 23, quinta-feira, aos cinemas portugueses.

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Entre as mudanças, há uma demasiado evidente. Aquele que era um elenco de promessas britânicas virou uma montra de estrelas do cinema e da televisão, ainda que os nomes sejam os mesmos. Veja-se o caso de Ewan McGregor, então na casa dos 20 anos e a participar no seu quarto filme, longe dos sucessos de «Moulin Rouge!» (2001) ou da trilogia «Star Wars», onde foi um jovem Obi-Wan Kenobi. Ou o ator Robert Carlyle, o arrogante Begbie, dez anos mais velho, mas bem longe do mediatismo conseguido com o “seu” Rumplestiltskin de «Era Uma Vez»; a confirmação depois do percurso bem-sucedido em «SGU Stargate Universe». Já Jonny Lee Miller passou de “Rapaz Doente” [Sick Boy], no seu segundo filme, a detetive de luxo na série norte-americana «Elementar», em que dá vida a um moderno Sherlock Holmes.

Mas, há 20 anos, ninguém imaginaria o talento, ou o alcance deste, do trio britânico. À exceção de Danny Boyle. Naquela que era a sua segunda longa-metragem para cinema, o realizador inglês teve o dom de escolher um leque de ‘putos’ excecionais. O estrondo fez-se ouvir em Hollywood e, poucos meses após a estreia, o argumentista John Hodge figurava entre os nomeados aos Óscares de Melhor Argumento Adaptado, lançado pela vitória nos prémios BAFTA. Curiosamente, o vencedor dessa categoria seria Billy Bob Thorton que, sendo um ator brilhante, tem uma única estatueta… pela sua adaptação de «O Arremesso» (1996).

T2 Trainspotting

Costuma dizer-se, tanto no cinema na vida, que a lei mais determinante é o tempo. E assim foi também neste caso. De produção humilde a filme de culto foi um passo e, atualmente, «Trainspotting» (1996) é um marco para muitos “cinéfilos”. No entanto, a continuação da história de Renton (McGregor) e companhia adivinhava-se um sonho quase impossível. Desde logo porque, ironia das ironias, Danny Boyle e Ewan McGregor zangaram-se poucos anos depois e estiveram muito tempo de costas voltadas. O “culpado”, como confessaram recentemente, terá sido Leonardo DiCaprio, que protagonizou «A Praia» (2001), retirando a McGregor o protagonismo a que estava habituado no cinema de Boyle.

Outro dos regressos mais desejados é o das belas paisagens da Escócia. Ser palco de filmes de fantasia é-lhe “inato”, mas o país, e particularmente Edimburgo, tem no seu ventre uma realidade bem mais crua, transposta de forma sublime para o universo de Renton, Begbie, Sick Boy e Spud (Ewen Bremner). As suas paredes respiram memórias de uma história fascinante, mas também escondem o lado mais sujo da sociedade. Os vícios, como as drogas, contrastam com as paisagens imensas de cortar a respiração, revelando o lado menos bonito das suas ruas, de bares duvidosos a casas de banho (como esquecer a ‘cena’ do primeiro filme!). A ação bebe, de igual forma, do feio e do belo, alimentando uma narrativa que tem tanto de contagiante como de “podre”. Nada está a salvo. A sociedade é redescoberta, criticada, os seus “esgotos” são remexidos e, nos diversos atalhos que encontramos pelo caminho, a lição ultrapassa a tela para nos lembrar, como há 20 anos, “choose life”. Mas, bem sabemos, nada é tão linear…

 

 

Este artigo foi originalmente publicado na Metropolis.

 

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