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O inverno chegou, Jon Snow e Daenerys Targaryen estão a caminho

Esqueça viagens de sonho como México, Ibiza ou Itália. Esqueça o calor. O destino da moda é Westeros, onde se espera o inverno mais frio de sempre. A partir de dia 16 de julho nos Estados Unidos, e do dia seguinte em Portugal, no Syfy, não há volta a dar: todos os caminhos vão lá ter. «A Guerra dos Tronos», a série mais popular do mundo, está de regresso – e nos próximos meses não se vai falar de outra coisa.

Game of Thrones

Cersei Lannister, Rainha Cersei Lannister. Muitos fãs de «A Guerra dos Tronos» não conseguem dizer este nome sem desenharem no rosto um esgar de repulsa. E nem a atriz que lhe dá vida, Lena Headey, escapa impune aos crimes cometidos por uma das personagens mais odiadas da televisão. A própria já confessou que, em filas de autógrafos, há seguidores fervorosos da série que recusam a sua assinatura – ao ponto de ela ter de ‘roubar’ o livro para escrever à ‘força’ –, ou pessoas que lhe atiram impropérios quando se cruzam com ela na rua. Ao longo de seis temporadas – e de forma sublime, diga-se –, a personagem conseguiu irritar, num momento ou em vários, (quase) todos os seguidores da série. A julgar pela última temporada, aliás, Cersei pode mesmo vir a dividir com George R.R. Martin, quase de igual para igual, a responsabilidade (e, consequentemente, o ‘ódio’ dos fãs) por grande parte das mortes em Westeros.

Não obstante, esta é a história que George R.R. Martin (ainda) não escreveu. O escritor teima em adiar, indefinidamente, a publicação de The Winds of Winter, o sexto livro da saga «A Guerra dos Tronos», mas já se sabe que em televisão não se pode parar. Ou que nós não podemos parar perante esta, e as redes que se criam pelo caminho – veja-se as múltiplas teorias, algumas bem certeiras, que se continuam a multiplicar pela Internet fora –, uma vez que nos arriscamos a ser ultrapassados (mesmo que sejamos George R.R. Martin). Depois de alguns ‘sinais’, a ação dos Sete Reinos está, finalmente, à deriva: é caso para dizer que as próximas mortes já não vão ser traçadas pela ‘caneta’ do criador da saga – será o fim dos memes do autor? Mas desenganem-se: isso está longe de querer dizer que os nossos favoritos estão a salvo. E, desta vez, nem os ‘cromos’ dos livros nos podem preparar para os maiores sustos do verão… ou devemos dizer ‘inverno’?

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Ned Stark (Sean Bean) bem o anunciou, logo na primeira temporada: “O inverno está a chegar”. Outros repetiram o anúncio, passado de boca em boca ao longo de gerações. Mas foram os criadores da série, David Benioff e D.B. Weiss, que deram o golpe decisivo: a season finale de 2016 teve um título bastante sugestivo e nada inocente, The Winds of Winter, o mesmo do livro que George R.R. Martin nunca mais publica. À medida que os white walkers se aproximam perigosamente das populações e, mais concretamente, de Bran Stark (Isaac Hempstead-Wright), não há dúvidas que se esperam temperaturas bem agrestes em Westeros. Resta é saber quais vão fazer mais mossa: se os white walkers, se Daenerys com os seus dragões. O inverno chegou e Daenerys prepara-se, finalmente, para disputar o trono que julga seu por direito, tal como o outrora bastardo indesejado Jon Snow (Kit Harington), recentemente nomeado Rei do Norte. No entanto, há uma questão que se impõe: será que vão encontrar King’s Landing inteira? É que Cersei seguiu os ‘boatos’, encontrou o fatal wildfire e já lhe deu uso para eliminar os primeiros inimigos, na vingança de duas temporadas de pesadelo.

 

Cersei: De crentes e ‘loucos» todos temos um pouco?

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Ainda assim, há outra profecia que convém também lembrar, a da própria Rainha. Traçada nos livros de George R.R. Martin e recriada, parcialmente, no ecrã, a sina de Cersei Lannister é escrita a custo de muito sangue. No arranque da quinta temporada, após a morte do pai e antes do homicídio de Myrcella (Nell Tiger Free), somos, com ela, transportados para a memória da sua visita a uma vidente, Maggy (Jodhi May), na adolescência. “Ela prometeu-me três filhos… e prometeu-me que eles iriam morrer”. E, se no início da sexta temporada ainda sobrava Tommen Baratheon (Dean-Charles Chapman), a verdade é que depois do suicídio deste, um dos poucos a sair ileso do wildfire, tudo aponta para que Cersei não escape com vida ao próximo inverno.

No passado, assim que a jovem Lannister perguntou se iria casar com o príncipe, então Targaryen, a misteriosa mulher garantiu que ela iria, em vez disso, casar com o rei: isso confirmou-se quando Cersei casou com Robert Baratheon, já coroado após a derrota do ‘’Rei Louco’ Aerys Targaryen. De seguida, anunciou que ela seria Rainha, mas que, depois, chegaria outra, mais nova e mais bela, para a destruir a ela e a tudo o que lhe era mais querido. Primeiro, Cersei achou que esta seria Sansa (Sophie Turner), e mais tarde teve a certeza que se tratava de Margaery Tyrell (Natalie Dormer), pelo que resolveu esse problema no final da passada temporada. Embora a fúria de Olenna Tyrell (Diana Rigg), que até já contribuiu para a queda de Joffrey (Jack Gleeson), não possa ser ignorada, tudo indica que a “mais nova e mais bela” visada na profecia só agora se está a aproximar: Daenerys. A terceira parte da profecia, no livro e na série televisiva, já se confirmou: “O Rei terá 20 filhos e tu terás três. De ouro serão as suas coroas… e de ouro serão as suas mortalhas”.

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Há, todavia, uma diferença entre o papel e o ecrã quando falamos em «A Guerra dos Tronos». Além do que aqui referimos, no livro a vidente acrescenta que “quando as tuas lágrimas te tiverem afogado, o Valonqar irá colocar as suas mãos à volta da tua garganta pálida e branca, e asfixiar-te até à morte” [tradução livre]. Na língua Valyrian, essa palavra costuma referir-se a irmão mais novo, o que explicaria, em parte, o ódio da Rainha a Tyrion Lannister (Peter Dinklage). Mas já sabemos que em «A Guerra dos Tronos» não há respostas assim tão simples, certo? E, embora Tyrion tenha sido o responsável pela morte do pai – e até esteja a caminho na equipa de Daenerys –, há uma cena da quinta temporada que o poderá ilibar desta profecia: o facto de ter conseguido lidar com um dragão sem ser comido – algo que parece ser capacidade exclusiva dos Targaryen. Além disso, no momento em que se prepara para matar o pai, este diz “não és meu filho”. Se, tal como Jon Snow, também ele for da família do ‘Rei Louco’, tal deixa como irmão mais novo Jaime (Nikolaj Coster Waldau), com quem Cersei mantém uma relação incestuosa há décadas, uma vez que foi o segundo gémeo a nascer.

Contudo, importa referir que há teorias na Internet que põem o possível destino fatal de Cersei nas mãos de personagens como Daenerys ou Arya Stark (Maisie Williams), que até tem o nome de Cersei na sua lista de pessoas a matar. Segundo essas hipóteses, Valonqar pode significar também irmã mais nova, considerando que o Valyrian é uma língua com variações e, dependendo do vocabulário da vidente, pode não apontar para nenhum dos Lannisters, mas antes para a irmã mais nova de outra família. Porém, e apesar de esta parte não ter sido incluída na televisão, poucas dúvidas restam de que o destino que espera Cersei, talvez já esta temporada, é a morte. Não obstante, será que, antes disso, ainda vamos ser presenteados com uma ‘Rainha Louca’ dos tempos modernos? O wildfire, pelo menos, já tem…

 

O Rei do Norte que também é filho do gelo e do fogo

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Com a revelação de que Jon Snow é, afinal, filho de Lyanna Stark (Aisling Franciosi) e de Rhaegar Targaryen, uma das principais teorias da história de «A Guerra dos Tronos» foi, finalmente, confirmada. A mãe foi-nos apresentada na sexta temporada, confirmando as suspeitas de que Jon não era o filho bastardo de Ned Stark, sempre tão devoto à mulher. A existência de Jon, aliás, parecia fruto de um momento out of character do principal bastião do Norte – que até lhe prometeu a verdade, mas morreu antes disso. Como queria proteger o sobrinho, manteve-o por perto e criou-o no seio da família, o que nunca agradou a Catelyn Stark (Michelle Fairley), sem relevar o nome dos progenitores, já que resultaria certamente na morte de Jon. Lyanna teria sido raptada por Rhaegar mas, e tal como os fãs suspeitavam, os dois viveram, em vez disso, uma história de amor. É que apesar de o pai de Jon não ter sido introduzido ainda no ecrã, a HBO acabou por confirmar, acidentalmente na Internet, que o eterno bastardo é um Targaryen.

Por sua vez, Melisandre (Carice van Houten) colocou nos ombros de Jon outra profecia, que antes destinara a Stannis Baratheon (Stephen Dillane): será ele o guerreiro da Luz, o salvador anunciado? Ao contrário do irmão de Robert, que até sacrificou a própria filha, o outrora defensor da Muralha não foi na conversa e expulsou a perigosa vidente do grupo… aproximando-a de Arya? Na terceira temporada, Melisandre falou com a corajosa Stark, que, desde então, tem andado por conta própria, e nem ela se livrou de uma profecia: “Eu vejo uma escuridão em ti. E nessa escuridão, olhos que olham de volta para mim. Olhos castanhos, olhos azuis, olhos verdes. Olhos fechados para sempre. Vamos encontrar-nos de novo” [tradução livre]. Será esse encontro na sétima temporada? Segundo um fã da série, que publicou a sua ideia no Reddit, Melisandre enumerou cores que equivalem aos olhos de pessoas que Arya já matou, à exceção do verde. E não é que, segundo esse mesmo fã, Cersei tem olhos verdes?

A Guerra dos Tronos

Entretanto, e agora que Jon e Sansa parecem estar mais próximos do que nunca, falta saber se o mesmo vai acontecer com os Stark sobreviventes: Bran e Arya. A família Stark tem sido uma das mais castigadas desde o início, com a decapitação de Ned e o ‘Casamento Vermelho’ a figurarem entre alguns dos momentos mais marcantes – e chocantes – quer dos livros quer da série televisiva. E a morte de Rickon Stark (Art Parkinson), em frente a Jon e por culpa do terrível Ramsay Bolton (Iwan Rheon), na épica Batalha dos Bastardos, é apenas mais um sinal de que os irmãos vão continuar a não ter vida fácil. A começar por Bran, que ganha um papel cada vez mais relevante na saga, nomeadamente devido à sua capacidade de viajar no tempo e, assim, ter acesso ao passado. No entanto, o mesmo personagem pode também ser um dos grandes responsáveis pela aproximação dos white walkers, como presenciámos num dos arcos da sexta temporada.

 

De Targaryen para Targaryen: estará a resposta de «A Guerra dos Tronos» em Jon e Daenerys?

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Ela, por culpa dos seus temíveis dragões, sempre foi vista como a mulher do Fogo, e candidata mais do que anunciada a liderar os Sete Reinos. Ele, criado em Winterfell e feito homem no frio das Muralhas, pode agora ser apresentado como Targaryen, mas nunca deixará de levar Gelo dentro de si. Como tal, Jon e Daenerys parecem os ingredientes mais do que perfeitos para a receita anunciada por George R.R. Martin desde o início, com o intitulado As Crónicas de Gelo e Fogo. Será que a resposta sempre esteve à nossa frente e nós, entre guerras épicas e confrontos antecipados, fomos distraídos pelo caminho?

Numa altura em que faltam apenas duas temporadas para o fim, e mais curtas do que os habituais 10 episódios (a nova temporada terá sete), restam poucas dúvidas de que o pior está para vir. Mas, quando os criadores da aposta mais bem-sucedida da história da HBO se lançam de forma totalmente autónoma, há muito mais em jogo do que apenas criar um argumento atrativo. Independentemente do rumo que George R.R. Martin decida dar à sua saga depois (ou do tempo que tal demore a acontecer), David Benioff e D.B. Weiss têm nos ombros a árdua tarefa de corresponder às expetativas de milhões de espectadores espalhados por todo o mundo. As profecias vão-se cumprindo, as personagens vão morrendo e, na inevitável reta final, é preciso atar as pontas soltas e aliar as vontades dos criadores da série à narrativa dos livros. Tudo tem de fazer sentido, até porque, bem o sabemos, a Internet não perdoa.

A Guerra dos Tronos

Entre os arcos de «A Guerra dos Tronos» que foram transitando da página para o ecrã, há três que parecem pautar, incontornavelmente, a agenda dos fãs. Por um lado, os criadores optaram por ‘colar’ Sansa à trágica sina que uma outra personagem tinha, nos livros, nas mãos de Ramsay Bolton. Tal nunca foi perdoado e o próprio autor da saga fez questão de divulgar excertos do próximo livro – que, ainda assim, teima em não terminar há vários anos –, onde Sansa se encontrava num ambiente bem menos nocivo, um mês antes da terrível noite de núpcias com o bastardo de Bolton. Por outro lado, a Lady Stoneheart, presente nos livros, continua a não aparecer na televisão e, ao que tudo leva a crer, deverá mesmo ser mantida longe do pequeno ecrã. A personagem é a versão zombie de uma das vítimas da caneta de George R.R. Martin e um dos maiores desejos, não correspondidos, dos fãs. Maior desejo do que esse só a anunciada ‘Cleganebowl‘, o confronto entre os irmãos Clegane, que, tanto nos livros como na série, teima em nunca mais acontecer. Ainda houve alguns sinais de que o ‘Cão de Caça’ Sandor Clegane (Rory McCann) pudesse enfrentar o irmão, agora zombie, Gregor Clegane (Hafthór Júlíus Björnsson), sobretudo quando Cersei se preparava para o seu julgamento. Ao ser anunciado que os ‘julgamentos por combate’ estavam proibidos, a esperança esfumou-se…

Preparamo-nos há anos, seja enquanto leitores ou espectadores, para o acontecimento da épica batalha entre o Gelo e o Fogo. De um lado, os vilões sedentos de sangue, outrora apenas mito. Do outro, Daenerys Targaryen, que caminhava há anos rumo a Westeros sem grandes avanços, e Jon Snow, que tardava a ser confirmado com o derradeiro candidato das terras mais a Norte. No centro, a Rainha Cersei, que ainda mal teve tempo de aquecer o trono. Depois de um dos finais mais quentes da temporada televisiva, «A Guerra dos Tronos» está, mais de um ano depois, de regresso para aquele que deverá ser o inverno mais frio de sempre. Com o epílogo cada vez mais próximo, a toalha de praia promete ser trocada pelo inverno gélido do universo criado por George R. R. Martin… pelo menos uma vez por semana.

 

 

 

Este artigo foi originalmente publicado na edição nº51 da Metropolis, de julho de 2017.

 

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