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Mare of Easttown: a brutalidade (apaixonante?) de Kate Winslet

Dez anos depois de «Mildred Pierce», Kate Winslet regressa ao pequeno ecrã para protagonizar «Mare of Easttown», da HBO. A atriz interpreta uma detetive antissocial e impulsiva, que tenta organizar a sua vida pessoal, ao mesmo tempo que tem de investigar um rapto e um homicídio. Já vi os primeiros cinco episódios.

Mare of Easttown

A simpatia, ou neste caso a falta dela, de Mare Sheehan (Kate Winslet) é palpável para o espectador. A atriz sofreu uma transformação física e comportamental – mostrando-se bem distante do tipo de personagens que costuma interpretar – e surge como uma detetive bruta e desajeitada em «Mare of Easttown», que estreia amanhã na HBO Portugal. Num local aparentemente pacato onde todos se conhecem, o mínimo conflito resulta numa grande cena… e, na verdade, a falta de empatia de Mare não ajuda.

Com um caso por resolver há um ano, de possível rapto, Mare é obrigada a contar com a ajuda do detetive Colin Zabel (Evan Peters), algo que não lhe agrada particularmente. Sem avanços no caso, a Polícia de Easttown depara-se inesperadamente com mais uma tragédia: a morte de jovem local, cujas ligações a moradores de diversos quadrantes acaba por trazer à tona o pior de todos eles. Incumbida de investigar também este caso, Mare deixa, uma vez mais, a sua impulsividade levar a melhor; e nem a maior tranquilidade de Colin consegue acalmar o jeito “brusco” da detetive. Que, naturalmente, se alastra à sua vida familiar.

Mare of Easttown

A realização sombria de Craig Zobel, aliada a uma banda sonora ocasionalmente desconfortável, lança o tom do drama criminal onde Kate Winslet é a estrela maior. Mas estamos perante uma verdadeira constelação de estrelas: o elenco conta também com Guy Pearce, Jean Smart, Julianne Nicholson, Evan Peters, David Denman e Sosie Bacon, entre muitos outros.

Fica desde já um aviso: não vai ser fácil gostar de Mare. Mas isto é algo que, ao contrário do que seria expectável, é um grande elogio ao trabalho de Winslet. Praticamente sem maquilhagem, com uma roupa pouco arranjada e uma aptidão natural para ser odiada por todos, Mare é a antítese do que se espera de uma detetive num meio pacato onde todos se conhecem. Um mistério que se vai desvendado à medida que o espectador fica a saber mais sobre o passado da personagem. Aliado a uma intriga que se multiplica episódio após episódio, «Mare of Easttown» reúne os elementos fundamentais para prender a audiência ao pequeno ecrã.

Em contrapartida, é mais fácil perceber a perspetiva de quem se atravessa à frente de Mare. Os seus casos são mais claros e imediatos. Para a audiência e para a própria sociedade que habita esta história.

Mare of Easttown

O argumento bem estruturado é uma das principais forças da série, que torna todos os intervenientes mais reais para o público, com uma backstory e a exposição dos conflitos em que estão envolvidos. Aí, é inegável o trabalho de Brad Ingelsby (Para Além das Cinzas, Noite em Fuga), que se estreia aqui na escrita de séries. Enquanto o diálogo permite aos atores, muitos com créditos bem firmados, brilhar, a estrutura dos acontecimentos dá corpo a um drama entusiasmante, com as medidas certas de drama, ação, mistério e até alguma comédia. É caso para dizer que a vitória de «Mare of Easttown» está na importância que dá ao detalhe.

Frieza ou fragilidade? As certezas dos primeiros episódios vão enfraquecendo à boleia do tempo da ação, aproximando a audiência das dinâmicas de Easttown. Assim como acontece na trama, também deste lado há espaço para a dúvida. Será o modo áspero de Mare um traço de personalidade ou uma defesa? Ao fim de cinco episódios, a resposta continua uma folha em branco e o caminho, ainda que proveitoso, permanece um ponto de interrogação. Ao espectador, aqui quase chamado a ser personagem e a envolver-se nos traumas que assolam as personagens, cabe ir tentando completar este puzzle.

A partir de amanhã, 19, na HBO Portugal.

 

Texto originalmente publicado aqui

 

 

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