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Watchmen: um spin-off à altura das expetativas

«Watchmen», uma das séries mais aguardadas de 2019, tem estreia marcada para a madrugada desta segunda-feira na HBO Portugal. Pela METROPOLIS, tive acesso aos seis primeiros episódios em primeira mão.

Watchmen

A série «Watchmen» é, em si mesma, uma falácia criativa. Por um lado, é aconselhável ter o contexto do filme de 2009 para perceber todas as camadas da história, já que, caso contrário, a perceção do ambiente narrativo não é completa e algumas referências e easter eggs caem em saco roto. Mas é esse contexto que mais penaliza a receção da série, uma vez que a trama idealizada por Damon Lindelof (criador de séries como «Perdidos» e «The Leftovers) estará provavelmente aquém das expetativas dos fãs para o que seria o seguimento da história. Algo que, todavia, não põe em causa a quantidade e potencial da série da HBO, com estreia marcada para 20 de outubro e com um episódio lançado semanalmente.

A série resulta de um spin-off da história já conhecida dos Watchmen, que surgiu na banda-desenhada em 1986-1987 e se popularizou sobretudo com o filme «Watchmen» (2009). À data do seu “nascimento” em papel, os Estados Unidos encontravam-se no rescaldo de uma luta defendida por poucos e em plena Guerra Fria, com futuro incerto. A ansiedade social era muita e o medo, na iminência de uma guerra nuclear, marcava o quotidiano. Na sua recriação utópica, os EUA ganham a Guerra do Vietname graças a um dos Watchmen, o Dr. Manhattan – com o país a tornar-se mais um estado – e, em 1985, um evento cataclísmico e fabricado une toda a gente por medo, adiando a aparentemente inevitável Terceira Guerra Mundial. «Watchmen» segue estes acontecimentos e coloca a sua ação no presente, em Tulsa.

Watchmen

Embora não reescreva totalmente a história americana, pega num dos acontecimentos mais polémicos de sempre: o massacre racial de Tulsa, em 1921, no qual extremistas brancos chacinaram os habitantes negros sem piedade. Este é, aliás, o ponto de partida da série, antes de se deslocar para o presente – e ao qual se vai inevitavelmente voltar. Os avanços tecnológicos e a fisionomia dos bairros são mudanças mais do que evidentes, mas o lado social parece ter ficado parado no tempo: o racismo continua bem marcado num clã local, que, ironicamente, usa máscaras de Rorschach. E nem um apoio recente de apoio às vítimas afro-americanas suaviza a crispação – quanto muito, aumenta-a.

Quem também esconde a cara, como os Watchmen 30 anos antes, é a polícia de Tulsa, na sequência de um ataque concertado aos agentes na “White Night”. Desta forma, protegem a sua identidade para garantirem maior segurança às suas famílias. Com nomes de código e fatos que lembram os Watchmen e os Minutemen (o grupo de justiceiros anterior, nos anos 40), os polícias são chamados à ação quando um clã racista volta ao ativo depois de uma interrupção breve. Em foco está Angela Abar (Regina King), uma detetive nascida no Vietname, que finge ter abandonado a autoridade, mas está mais implacável do que nunca. É também o braço-direito de Judd Crawford (Don Johnson), o responsável do Departamento.

Watchmen

Esta breve sinopse resume ao que a série vem: o legado dos Watchmen não é ignorado, mas o seu lado social é ainda mais intenso, nomeadamente tendo em conta os casos de violência policial e do KKK contra afro-americanos. À exceção de um ou outro rasgo inspirado na realização, «Watchmen», a série, pouco tem a ver com o filme ligado ao seu passado.

A mais recente aposta da HBO podia funcionar perfeitamente sem qualquer conexão com os Watchmen ou os Minutemen – que, inclusivamente, são “caricaturados” numa série dentro da própria série, “American Hero Story” –, já que o seu foco é bem mais abrangente do que o original e as ligações “forçadas” poderiam ser substituídas por outras personagens. Em todo o caso, é um problema facilmente superável se as expetativas (e comparações com o filme/banda-desenhada) forem diminuídas. Um desafio que nem sempre é fácil de cumprir.

Watchmen

As questões políticas e sociais que marcam a narrativa são complexas e bem suportadas pelas personagens que as assumem: as histórias são bem elaboradas, o contexto é construído com cuidado e o mistério constante deixa o espectador em suspense para saber o que acontece a seguir. Na linha deste detalhe, Damon Lindelof não tem problemas em dedicar dois episódios (5 e 6) à contextualização do que foi visto até ali, preparando o conflito épico que se avizinha. Temas como a manipulação das massas e a orquestração de lutas – para serem vividas por quem se quer eliminar – continuam a pautar a estética de Watchmen, que revisita o passado com frequência para se enquadrar no presente.

Regina King é uma atriz de outro nível – dúvidas houvesse, e lá ia ela à estante buscar o Óscar que venceu este ano por «Se Esta Rua Falasse» (2019), bem como um Globo de Ouro e três Primetime Emmys. Depois de brilhar numa série apagada («Seven Seconds»), Regina tem finalmente espaço para crescer protagonista inesperada desta história de ação. Mas o elenco de luxo não fica por aqui: Jeremy Irons e Jean Smart dispensam apresentações e assumem as storylines secundárias mais importantes, sendo ainda de destacar a presença de Frances Fisher, Tom Mison, Tim Blake Nelson, Louis Gossett Jr. e um dos atores do momento, Yahya Abdul-Mateen II («Nós» (2019), «Black Mirror» e «Aquaman» (2018)).

Avaliação final: Yay ou Nay? YAY

 

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