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Gambito de Dama: A vida é como um jogo de xadrez

Tive acesso antecipado à minissérie «Gambito de Dama», protagonizada por Anya Taylor-Joy. A série, composta por sete episódios, tem estreia marcada na Netflix para sexta-feira, 23.

Anya Taylor-Joy tem vindo a consolidar o seu lugar no grande ecrã. A atriz, de 24 anos, distinguiu-se recentemente com M. Night Shyamalan em «Fragmentado» (2016) e «Glass» (2019), ao interpretar a principal obsessão de James McAvoy. Agora, chegou o desafio mais exigente até à data: protagonizar a minissérie «The Queen’s Gambit», da Netflix, que em Portugal foi traduzida para «Gambito de Dama».

Gambito de Dama

O nome da série remete para uma das jogadas mais icónicas do xadrez, The Queen’s Gambit, que funciona como o fio condutor da história de Beth Harmon (Anya Taylor-Joy). Após ficar inesperadamente órfã, a criança é levada para um orfanato conservador, onde as crianças são controladas à base de medicamentos tranquilizantes. Os famosos “comprimidos verdes”, muito fortes, incentivam a imaginação da criança, que começa a visualizar tabuleiros de xadrez no teto do dormitório. Isto depois de conhecer o solitário Mr. Shaibel (Bill Camp), que costuma jogar sozinho na cave.

A trama é baseada no livro The Queen’s Gambit, da autoria de Walter Tevis, publicado em 1983.

 

Gambito de Dama: Se a vida é um xadrez, nós somos as peças

A ação começa em Paris, em 1967, revelando uma Beth à sua pior luz, agarrada aos seus vícios. Quando finalmente chega, atrasada, a um jogo, a narrativa recua ao passado para nos revelar a sua história. Afinal, é preciso perceber o fenómeno de Beth Harmon antes de a julgar. E tudo começa quando fica órfã depois de a mãe morrer num acidente de carro.

Gambito de Dama

Deslocada, a vida triste de Beth encontra novo alento com o xadrez e as suas técnicas. A criança mostra uma aptidão natural e, apesar do constante “castramento” de que é alvo no orfanato cristão, encontra sempre forma de contornar os obstáculos. No entanto, a adição dos comprimidos molda também a sua personalidade e é estabelecida uma dependência muito difícil de quebrar. Uma imagem, aliás, das crianças medicadas para não terem tanta energia…

Uma jovem mulher num mundo dominado por homens, Beth começa por ser encarada como o elo mais fraco de uma competição feroz, até ao momento em que ela se torna a ameaça. Dos torneios locais e sem grande impacto aos principais palcos dos Estados Unidos e do mundo, Beth vai quebrando barreiras e fazendo a diferença. Enquanto a dependência do álcool e dos “comprimidos verdes” se mantém, a jovem prodígio deixa de saber onde tem início a sua capacidade e onde acaba o vício. Os dois lados confundem-se.

Gambito de Dama

Sendo o xadrez um jogo mais técnico e muito estratégico, a narrativa tem o desafio de equilibrar a perícia de Beth com o seu mundo interior, em constante turbilhão. A série consegue-o com muito mérito, contando com a ajuda do diálogo e da banda sonora, que estabelecem o estado emocional da cena. Já Anya Taylor-Joy aproveita o seu look “desajustado” para explorar, através do olhar e da linguagem corporal, toda a complexidade que Beth representa.

Por sua vez, há também o lado do amor, romântico, familiar e de amizade, que pode assumir variadas formas e nem sempre é um problema fácil de resolver. A relação mais enriquecedora é de Beth com Alma (Marielle Heller), uma mulher à deriva no mundo depois de uma relação destrutiva. Alma acaba por ser a bússola inesperada na vida da promissora jogadora que, aos poucos, vai encontrando alguma luz no meio da escuridão em que vive mergulhada.

«The Queen’s Gambit» é uma criação de Scott Frank e Allan Scott. No elenco destacam-se, a par da protagonista e dos já mencionados, Harry Melling (Harry Potter), Thomas Brodie-Sangster (Maze Runner), Moses Ingram e Jacob Fortune-Lloyd.

 

Texto originalmente publicado na Metropolis

 

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