Finisterra

Portugal, durante a Segunda Guerra Mundial. Enquanto temem a guerra, o comunismo e o desconhecido, os portugueses enfrentam a fome, a doença e a repressão, com poucos recursos para contornar as dificuldades do dia a dia. Eis o ambiente de «Finisterra», que estreou na RTP1 no passado dia 10.

Finisterra

A nova aposta da RTP coloca-nos no barlavento algarvio, em 1943. Em plena ditadura, com a Segunda Guerra Mundial a decorrer, a guerra parece estar longe (com o país a assumir uma postura neutra), mas o medo nunca esteve tão perto. E é esse medo, instalado, que vai “domando” quem ali vive, para que não se atrevam a sonhar com algo mais do que uma vida humilde e de pobreza.

Com uma narrativa repleta de mistérios e superstição, a história acompanha Celeste (Leonor Vasconcelos), uma órfã marcada pela tragédia e pelas suspeitas do povo. Marginalizada, cresce sob o olhar desconfiado de toda a comunidade, ainda assombrada pelo passado. Quando um avião americano aterra perto de onde mora, esse acontecimento acorda medos antigos e leva a população a acreditar que o “mal” voltou. E, numa catadupa de acontecimentos, Celeste torna-se o alvo das superstições locais

Finisterra

Enquanto temem poderes desconhecidos, e o regresso de ameaças antigas, as pessoas não se apercebem de outros terrores que se vão infiltrando em Aljezur. A presença nazi na região é mais real do que se quer admitir, e os pactos silenciosos que garantem a ilusão de neutralidade começam a ruir. A cada revelação, a linha entre o que é real, superstição ou manipulação torna-se cada vez mais ténue.

Com uma realização sóbria e “fria”, «Finisterra» capta de forma bem conseguida a rudeza e o isolamento da paisagem algarvia, um território simultaneamente belo e implacável. A série recorre aos mitos, às superstições e aos receios mais profundos para desenhar uma narrativa onde o sobrenatural e a ditadura se entrelaçam. Assim como o medo da bruxaria condiciona os habitantes de Aljezur, também a repressão política os mantém controlados. A crença no oculto e a obediência cega ao regime são utilizadas para oprimir e eliminar aqueles que desafiam a norma.

Com Leonor Vasconcelos, Miguel Guilherme, Rui Pedro Silva e Gonçalo Waddington nos papéis principais, «Finisterra» é uma criação de Guilherme Branquinho e Leone Niel, que assinam também o argumento e realização.

 

Texto originalmente publicado aqui

 

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