The Serpent Queen: a tragédia de Catarina

Estreia amanhã, pelas 22h10, no TVCine Emotion, a série «The Serpent Queen», inspirada na história real de Catarina de Médici, Rainha de França. Esta série marca o regresso de Samantha Morton ao pequeno ecrã depois de «The Walking Dead».

Assombrada pela imagem de “Rainha Serpente” e de trazer azar aos que dela se aproximam, Catarina de Médici (Samantha Morton) é uma figura marcante da história da monarquia francesa, além de ser um símbolo da família Médici de Itália. Em «The Serpent Queen», o showrunner Justin Haythe (Revolutionary Road, A Agente Vermelha) recupera a imagem mística da Rainha e alguns dos mitos associados à sua vida, para criar uma protagonista envolvente e complexa; e explorar eventuais motivos para esta construção que chegou aos dias de hoje.

Quando Rahima (Sennia Nanua) é incumbida de servir a “Rainha Serpente”, o ambiente é pesado e a suposta honra é substituída por uma sensação de azar e má sorte. O que aguardará a criada do outro lado da porta, para tamanha sensação de castigo? Ao contrário das expetativas de Rahima e da audiência, Catarina apresenta-se, num primeiro momento, como uma mulher empática, amável e até frágil, procurando no desabafo com a criada mudar a perspetiva que ela (e por inerência o público têm dela). É aí que chega o primeiro flashback da personagem principal, desde a morte dos pais à chegada à corte francesa, com Catarina a ser interpretada por Liv Hill.

O argumento de «The Serpent Queen» é competente e interessante, oferecendo diversas storylines em simultâneo, numa recriação da época e do poder retirado às mulheres. Com a capacidade de decisão toda do lado de reis, duques, nobres e até guardas (em comparação com empregadas), o sexo feminino parecia condenado a ser o mais fraco, e é também essa uma das lutas travadas por Catarina. É possível comandar a partir das sombras e do medo?

Não demoramos muito a perceber que a postura rígida de Catarina é algo potenciado pela mesma, como uma defesa que a coloca fora do alcance de potenciais ameaças. Esta não é uma história de amor ou conquista, mas antes de sobrevivência, com a Rainha a assumir a posição de uma espécie de anti-heroína que reclama para si a justificação da sua persona a partir de uma história de origem. Uma narrativa que avança a bom ritmo e que ganha muito com a escolha de Samantha Morton para liderar o elenco.

Além da atriz, encontramos também nomes como Ludivine Sagnier, Raza Jaffrey, Amrita Acharia, Alex Heath, Colm Meaney, Charles Dance, Rupert Everett e Antonia Clarke, entre outros. Há novos episódios semanalmente, à segunda-feira, no TVCine Emotion.

 

Texto originalmente publicado aqui

 

Sara Quelhas

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