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Rabo de Peixe: quando a riqueza dá à costa

Há mais uma série portuguesa prestes a entrar no catálogo da Netflix. «Rabo de Peixe» estreia amanhã, 26, no streaming e relata um acontecimento caricato que colocou os Açores na boca do mundo.

A segunda série portuguesa a fazer parte do universo Netflix é «Rabo de Peixe», um dos 10 projetos vencedores do concurso para argumentistas desenvolvido pelo streaming, em parceria com o Instituto do Cinema e do Audiovisual (ICA). A nova aposta usa a ficção para retratar a realidade de uma povoação muito pobre, Rabo de Peixe, condenada ao esquecimento, que viu a sua sorte mudar totalmente quando uma grande quantidade de droga deu, literalmente, à costa em junho de 2001. Tornou-se uma mercadoria tão banal, na pequena localidade, que era vendida ao desbarato.

Esta é uma criação do açoriano Augusto Fraga, que também divide a realização com Patrícia Sequeira, que recorre a uma entusiasmante história de ficção para recordar um período obscuro e inusitado de Rabo de Peixe, Ilha de São Miguel. Um conjunto de personagens, de diferentes setores sociais e idades (ainda que com provações financeiras idênticas), vê a chegada de grandes quantidades de cocaína como um milagre quase divino que pode resolver os seus maiores problemas.

Eduardo (José Condessa), órfão de mãe e com o pai cego, teve de desistir de um possível futuro mais bem-sucedido para trabalhar. Frustrado com o destino a que está condenado, e acompanhado de amigos com vidas também complicadas – Sílvia (Helena Caldeira), Rafael (Rodrigo Tomás) e Carlinhos (André Leitão) –, corre atrás da cocaína para contrariar a tragédia a que se acha condenado. Uma viagem feita à boleia de dor, drama, amor e impulsividade. Ao qual não escapam, naturalmente, todos os que os rodeiam.

O argumento é bem conseguido e, com uma realidade tão complexa que parece ficção, «Rabo de Peixe» eterniza a história de uma localidade pobre que, além da aparente riqueza inesperada, viu a maioria da população agarrar-se ao vício e à autodestruição. Uma fórmula mágica que virou veneno ao toque, e contaminou tudo o que encontrou pelo caminho. À imagem de outras séries portuguesas, que atestam a qualidade nacional para entrar no mundo competitivo do streaming, a aposta é consistente e equilibra muito bem os factos com o potencial da criatividade.

O elenco conta ainda com figuras relevantes do panorama português, como Maria João Bastos, Albano Jerónimo, Afonso Pimentel, Kelly Bailey, Pêpê Rapazote, Adriano Carvalho, Marcantonio Del Carlo, Luísa Cruz e Daniela Ruah, entre muitos outros.

 

Texto originalmente publicado aqui

 

Sara Quelhas

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