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The Comey Rule: Trump na “cadeira quente”

A HBO Portugal lança amanhã, 28, uma minissérie de dois episódios que tem como protagonistas o ex-diretor do FBI James Comey e Donald Trump. Já assisti ao especial e diz-lhe o que esperar de «The Comey Rule».

Depois de ter atormentado a reta final da campanha de Hilary Clinton em 2016, provocando vários ódios após a derradeira vitória de Donald Trump, James Comey está de volta para dar nova dor de cabeça ao atual Presidente dos EUA. «The Comey Rule» tem como principal base o livro publicado pelo ex-diretor do FBI em 2018, A Higher Loyalty: Truth, Lies, and Leadership. O título é, aliás, uma indireta a Trump, que exigiu lealdade a Comey e acabou por despedi-lo quando o responsável não seguiu as suas indicações na investigação à Rússia e ao suposto caso com prostitutas em Moscovo.

Um dos catalisadores de «The Comey Rule» é demais evidente: desmascarar a influência da Rússia nas eleições de 2016 e nas de 2020. Embora o caso tenha sido secundário há quatro anos, perante a investigação dos polémicos e-mails de Hilary (que não tiveram consequências de maior), o eco mantém-se até aos dias de hoje. Com uma vibe documental, mas unidirecional, a minissérie protagonizada por Jeff Daniels (Comey) e Brendan Gleeson (Trump) ilustra sobretudo o trabalho de James Comey como diretor do FBI. Nomeado por Barack Obama, viria a ser despedido nos primeiros meses de Trump no poder.

The Comey Rule: o crime do ego

Apesar de a minissérie ser maioritariamente “simpática” para com James Comey, o que não surpreende porque é a sua versão que lhe serve de base, há também traços negativos de egocentrismo. Justificados, lá está, pela necessidade de dar resposta a um bem maior: os norte-americanos. No entanto, Comey perde a voz de narrador para Rod Rosenstein (Scoot McNairy) que, a lembrar o conflito Burr/Hamilton, conta o que tramou o então líder do FBI. E questiona, a espaços, as intenções de Comey: seria falta de humildade e puro ego?

Comecemos por focar a falta de humildade, isto é, na capacidade de ficar nos bastidores. Esta componente tem duas leituras: numa primeira fase não se atravessar com a postura da Procuradoria-Geral e, numa segunda, não ofuscar a vontade de Trump. Se a primeira não foi fatal para Comey, a verdade é que a segunda o deixou ainda mais na “lama”. Após ser persona non grata por contribuir, no entender de muitos americanos, para a derrota de Hilary Clinton, saiu depois pela porta pequena e bem longe de acabar o seu mandato. Embora haja uma “crítica” a Comey, esta muitas vezes é um elogio disfarçado e quase melodramático.

Não obstante, «The Comey Rule» é uma autêntica aula de História, sobretudo para quem, como nós, assiste ao desenrolar dos acontecimentos à distância. Perceber a origem da desconfiança do papel da Rússia, com o destaque depois dos métodos (como notícias falsas nas redes sociais) ou as conexões com elementos importantes para Trump, nomeadamente Michael Flynn. O homem de interesse para o FBI acabou mesmo por ser nomeado conselheiro de Defesa Nacional, ainda que tal tenha sido sol de pouca dura.

O argumento é sólido e, apesar de os dois episódios serem extensos, o ritmo faz com que a minissérie não seja muito “pesada”. Já a dinâmica entre personagens é muito bem construída, com especial destaque para a mulher de Comey, Patrice (Jennifer Ehle) e Sally (Holly Hunter), além do núcleo-duro do FBI, com Michael Kelly, Oona Chaplin, Amy Seimetz e Seann Gallagher, entre outros.

«The Comey Rule» funciona como uma espécie de redenção para o seu personagem principal, numa longa “carta” de explicação a quem apenas acompanhou tudo pelas notícias. Fica a acusação sublinhada de que a ligação entre Trump e a Rússia ainda não foi devidamente explorada, algo que será difícil de acontecer caso ele se mantenha no poder. Além disso, apesar de Comey apregoar a independência do FBI, a minissérie deixa no ar a dúvida: perante tantas mexidas nas equipas, pela mão de Trump e dos seus, será possível esperar, atualmente, a isenção a que a instituição se propõe?

São muitas as questões que o especial levanta, pelo que caberá a cada espectador fazer a sua leitura e interpretações, embora a viagem seja conduzida pelo olhar de Comey. «The Comey Rule» é uma criação de Billy Ray, nomeado ao Óscar pelo argumento adaptado de «Capitão Phillips» (2013). Está disponível a partir de amanhã, 28, na HBO.

 

Texto originalmente publicado aqui

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