Na nova série da Netflix, «Running Point», um acontecimento inesperado coloca Isla Gordon à frente dos destinos da equipa de basquetebol profissional LA Waves. Ignorada e desvalorizada desde criança, conseguirá a protagonista conquistar o respeito de todos e provar que é capaz de liderar num ambiente dominado por homens?
Jeanie Buss, ex-capa da Playboy, assumiu o controlo dos Los Angeles Lakers após a morte do seu pai, Jerry Buss, em 2013. Embora já estivesse envolvida na gestão da equipa, o momento em que ela assume a liderança ocorre num cenário de transição difícil, pois a equipa estava a passar por uma fase de instabilidade e fracas exibições. As comparações com Isla Gordon (Kate Hudson), de «Running Point», não terminam aí, mas algumas resultariam em pequenos spoilers da temporada.

É certo que Isla não assume a presidência dos LA Waves após a morte do pai, mas é escolhida por Cam (Justin Theroux) quando este tem de se afastar na sequência de um escândalo público. Esta decisão inesperada e controversa atira Isla para o centro de uma tempestade familiar e profissional. A escolha não agrada aos seus irmãos, Sandy (Drew Tarver) e Ness (Scott MacArthur), que tinham maior influência nos destinos do clube e se viam como os herdeiros naturais.
Além disso, Isla tem de lidar com o ceticismo dos jogadores e da comunidade desportiva em geral – até comentadores desportivos –, que não a veem como uma figura que consiga ser respeitada ou seja capaz de ser bem-sucedida no renascimento de uma equipa atualmente aquém das expetativas. A série explora a tensão entre a luta pessoal de Isla e os desafios externos, deixando-a numa posição onde terá de provar que pode vencer não só a resistência da sua própria família, mas também os preconceitos em torno da sua liderança.
A descoberta de um irmão desconhecido, filho de uma amante do pai, abala ainda mais as já instáveis estruturas da família Gordon. Este novo membro traz à tona sentimentos de traição e ciúmes entre os irmãos, questionando também a figura do pai, que pregava a moral e os bons costumes. A sua chegada desencadeia uma multiplicidade de reações e acontecimentos. A situação torna-se ainda mais complicada quando o novo irmão, ainda desconhecendo as complexas relações familiares, se mostra bastante ingénuo, já que apenas quer pertencer a uma família.

O equilíbrio entre humor e drama, aliado a um elenco convincente e a uma narrativa interessante, ajuda «Running Point» a oferecer um pouco mais do que somente a típica comédia de bastidores. Através de Isla Gordon, a série apresenta uma história sobre perseverança e superação, num mundo onde o espaço para mulheres líderes é frequentemente contestado. Ao desenvolver temas como o sexismo no desporto, a complexidade das relações familiares (na elite) e a luta pelo respeito profissional, «Running Point» evidencia-se ao introduzir uma protagonista forte – algo estereotipada, é certo – que desafia as expetativas e tenta, sem desistir, conquistar o seu lugar.
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