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Rainha Carlota: Uma História Bridgerton

Temos saga! Depois da popularidade de «Bridgerton», a adaptação ao pequeno ecrã da obra de Julia Quinn, a Netflix lança amanhã, 4, a história de origem de sua Majestade: «Rainha Carlota: Uma História Bridgerton».

A par de Lady Whistledown (voz de Julie Andrews) e Lady Agatha Danbury (Adjoa Andoh), a Rainha Carlota [na tradução oficial da Netflix], vivida por Golda Rosheuvel, é uma das personagens mais interessantes da série, ainda que o foco esteja na família Bridgerton. À boleia da sua popularidade, tanto a Netflix como a própria autora Julia Quinn, que publica o seu livro sobre a monarca dia 9 de maio, decidiram apostar numa espécie de história de origem da rainha. A prequela combina o passado de Carlota/Charlotte (India Amarteifio) com as recentes exigências da rainha adulta, que tem de arranjar forma de ter descendência no trono.

Na sequência de um acordo com a família real, Carlota tem de se mudar de armas e bagagens para a realeza, com o casamento marcado com um rei que nem sequer conhece, George (Corey Mylchreest). A possibilidade de uma rainha negra, numa sociedade marcadamente elitista e racista, é um golpe de “azar” típico de uma monarquia com pouca jeito para se governar. Perante o engano, Augusta (Michelle Fairley) e a sua corte decidem fazer da escolha acidental uma opção firme, incluindo com isso um conjunto de famílias marginalizadas pela sua cor na dita elite, com Agatha Danbury (Arsema Thomas) a estar entre a população que ascende a “Lady”.

Muito emocional e reativa, sobretudo na explicação da personalidade atual de Carlota, a série tem momentos de particular beleza narrativa. Como exemplo, o final do episódio piloto, onde depois de um instrumental incrível de “Halo”, de Beyoncé, o argumento se “desmancha” e deixa o espectador com a mesma sensação de vazio sentida por Carlota.

«Rainha Carlota: Uma História Bridgerton» mostra que sabe o que resulta na série-mãe e repete todos os truques na sua construção. Os amores impossíveis agarram a audiência e vão-se descomplicando, episódio após episódio, caminhando a passos largos para o presente que conhecemos em «Bridgerton». Ao mesmo tempo, para justificar a visita de quem vê a original, a prequela inclui acontecimentos e novidades relevantes para esse público, nomeadamente no que diz respeito à missão que Carlota tem em mão: casar os seus filhos para que, assim que possível, comecem a ter filhos legítimos e herdeiros ao trono. Uma ironia tramada do destino, atendendo à storyline das temporadas anteriores.

Qual o papel da mulher numa sociedade construída e gerida por homens? Nem Augusta escapa à fragilidade da sua condição, perante um conjunto de figuras relevantes que a ameaçam na sombra. A pressão é passada, por sua vez, ao filho, rei, que pouco ou nada quer saber de responsabilidades reais. Apaixonado pela ciência e pelo conhecimento, George vive mergulhado no seu mundo. Algo que, também, pode dar pistas para a contemporaneidade de «Bridgerton», onde o rei é quase um fantasma narrativo.

Uma série que cumpre o que promete, «Rainha Carlota: Uma História Bridgerton» é o primeiro passo alargado em mais um império de Shonda Rhimes. A super-produtora tem aqui uma mina de ouro e sabe disso. E nem a revelação dos truques de magia, com que agarra o público série após série, parece quebrar o seu sucesso. As pessoas já sabem ao que vão, mas vão na mesma.

A série integra ainda, no elenco, Ruth Gemmell (Violet Bridgerton, da original), Sam Clemmett, Hugh Sachs, Neil Edmond, Richard Cunningham, Peyvand Sadeghian, Tunji Kasim, Guy Henry, Jack Michael Stacey e Keir Charles, entre outros.

 

Texto originalmente publicado aqui

 

Sara Quelhas

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