Desistir de uma série televisiva é uma decisão muito importante, ainda que muitos não o percebam. Na vida de um seriólico, todos os compromissos são para levar a sério, mas, na hora da verdade, nem todas as relações são um “amor” para a vida toda. No entanto, se falamos de desistências de séries, por que se destaca «Anatomia de Grey», que dura há tanto tempo? É isso que vamos descobrir. (Testemunhos de seriólicos no final do texto)
Vamos tentar simplificar para quem não nos julguem maluquinhos. Imaginem o vosso prato favorito: nas primeiras vezes devoram-no, depois a vossa relação complica-se e ora estão muito tempo sem lhe tocar, ora repetem a dose várias vezes no mesmo dia, até chegar a fatídica data em que não querem mais. Talvez porque adicionaram um ingrediente que não vos agrada, ou simplesmente porque já não tem o mesmo sabor que idealizaram na vossa mente. Vão desistir do prato dos vossos sonhos de ânimo leve?
Comecei a ver mais séries na Faculdade, muito por culpa da minha colega de casa [beijinhos Diana] e porque estava sempre à procura de novas coisas para me distrair, tal era a vontade (ou falta dela) de enfiar a cabeça nos livros. Acham que ela me sugeriu as séries de que mais gostava? Claro que não. Apesar de me ter apresentado a «Pushing Daisies» [Mal-me-quer, Bem-me-quer no título português], algo que muito lhe agradeço, também foi por causa dela que acabei presa a dramas juvenis como «Diários do Vampiro» ou «Glee».
Devorei temporadas a fio para conseguir acompanhar a série com a Diana, mas foi uma questão de meses até ela desistir das séries e eu, incapaz de fazer o mesmo, continuar a ver os novos episódios de forma quase religiosa durante vários anos. Para ser sincera, não sei como é que, passado todo este tempo, ainda continuo a ser amiga dela. Mas esse tópico dava um texto maior do que este.
Mas convém esclarecer algo importante: eu deixei mesmo de ver essas séries. Como é que alguém que tinha tanta dificuldade em desistir de séries, e as continuava a ver apesar de reconhecer que já não gostava, começa a deixá-las para trás? Não porque finalmente tenha visto a “luz”, mas sim porque o trabalho se acumulava – e na vida profissional não se pode procrastinar como na estudantil – e tive de fazer escolhas. Não vou dizer que me senti a protagonista de «A Escolha de Sofia» (1982), porque me parece descabido e exagerado, mas percebem a ideia.
Investimos muito do nosso tempo, criámos uma relação com as personagens, torcemos por elas (ou não) e queremos saber o que vai acontecer a seguir. Gostar de uma série é um pouco como apaixonar-se, é um sensação totalmente exacerbada no início, mas há o risco de desvanecer à medida que vamos encontrando coisas de que não gostamos. No caso das apostas televisivas, estes “defeitos” podem ir desde as opções narrativas dos autores – ainda que tal continue a ser negado, séries como «Once Upon a Time» e «Arrow» foram influenciadas pelas opiniões do Twitter e alteraram as suas ideias em função disso (nomeadamente casais) – a imprevistos da vida real – em «Ossos», depois de muito “deixar andar”, a relação entre os protagonistas foi acelerada pela gravidez de Emily Deschanel.
Não obstante, há outros factores em jogo, bastante subjetivos e que, naturalmente, divergem de pessoa para pessoa. Veja-se o caso de «Anatomia de Grey», uma série na qual nunca consegui “colar”, mas onde um vasto leque de amigos meus continua a perder largas horas. Nem a previsibilidade e lado non sense da criação de Shonda Rhimes os fez abandonar o barco.
Mas porque continuamos (não eu, como já perceberam) a ver «Anatomia de Grey»? O melhor, é mesmo ouvir quem de direito:
Sara Reis: Eu acho que não desistimos de GA porque numa ou outra altura acabamos por nos rever nas vidas das personagens. Porque é uma série que uma ou outra vez nos deixa com a lagrimita. E porque apesar de ser muito novelesca, consegue ser sempre refrescante seja com as saídas das personagens, seja com acontecimentos marcantes ao longo da história. Acaba por ser um caso de amor com o enredo
Rute Facote: Eu já vi e desisti, voltei a ver e voltei a desistir de Greys algumas vezes! Eu acho que, no meu caso, o facto de não ser apaixonada pela série é o que me faz voltar… é paradoxal, eu sei, mas é uma série “leve” (apesar dos dramas) com quem, como a Sara Reis acabou de dizer, nós conseguimos identificar! No entanto, não é uma série que sinta falta, mas é uma série que me faz falta quando quero algo para me abstrair!
Sara Pereira Marto: Eu sou um pouco da velha guarda, comecei a ver Greys quando começou, apesar de na altura achar que já era overrated para a série que era. No entanto, como já foi dito, havia sempre personagens que te agarravam porque te identificas e queres saber como vai ser a sua história. É um pouco novela sim, mas tem essas inter-relações humanas que também acontecem na vida real (apesar de não acontecer tudo ao mesmo tempo e num só hospital ahahah). Exemplo: nunca gostei da Meredith Grey em toda a série ate que morreu o Derek e ela ganhou destaque. Agora acho-a muito mais interessante. Porque continuo a ver? Porque já segues esta gente há tanto tempo que já não parece uma série, parecem velhos conhecidos de um reality-show que acompanhas todos os dias…Custa deixá-los partir apesar de muitas vezes saberes que já deviam ter acabado a série.
Desafiados por mim, alguns amigos e conhecidos partilharam a história de uma série que deixaram de ver e porquê. Conheçam as histórias.
Marta Silva: Once Upon a Time, uma série q tinha uma premissa interessante, acabou por se tornar tão chata e aborrecida. As histórias cada vez mais elaboradas em vez de chegarem a uma conclusão natural, introdução de personagens em vez de resolverem as que já lá andavam… que grande decepção. Mas acho que não sou a única.
Marcos Rodrigues: Além de Once Upon a Time, que já foi referido, só tive mais uma série da qual desisti: Misfits. Estava curioso com a série e gostei bastante dos primeiros episódios, o problema é que o actor que dava a piada e vida à história, acabou por sair e introduziram uma nova personagem para o tentar substituir, mas não foi com sucesso. Tornou-se aborrecida.
Vanessa Silva: Once Upon A Time, sem dúvida. Foi querer meter o Rossio na Rua da Betesga, e tornar uma série excelente numa novela mexicana. Desisti…
Tatiana Sá Silva: Acho que me vão bater…. Mas Grey’s Anatomy… Pelo amor da santa, não podiam já ter acabado com aquilo??? Deixei de ter paciência para o enrola e enrola mais um bocado! Cansei e deixei mesmo de ver!
Sara Reis: Desisti de HIMYM porque tornou-se enfadonho, não atava nem desatava, não havia novidade na história e as personagens, convenhamos, era muito vazias. Para encher chouriços é preciso técnica!
Sara Peralta: Dr. House, era bom mas tornou-se sempre a mesma coisa, eram os mesmos cliches em todo o episódio nomeadamente tinha de haver sempre um sermão do Wilson a dizer exactamente as mesmas coisas ao House. Também parei de ver Revolution e Under The Dome. Em Revolution os actores/personagens eram irritantes e em Under the Dome idem e mal escritos…
Diogo Gonçalves: Desisti de Walking Dead algures na 4a temporada porque não me apetecia aguentar mais a ver sempre a mesma fórmula espremida até à última gota com as pitadas de erros técnicos sempre presentes.
Sofia Carvalhinho: Foram tantas… HIMYM, Walking Dead, Grey’s Anatomy, Pretty Little Liars, … Normalmente digo que para eu resistir a uma 3° ou 4° temporada de uma série é porque ela tem que ser genial (em termos de renovação do plot) ou simplesmente não abusar da fórmula quando ela já está desgastada. O maior exemplo disso para mim é Once Upon a Time. O conceito poderia dar para infinitas possibilidades, acabou por ficar desgastado, porque apareciam novos cenários e personagens mas os protagonistas não pareciam seguir em frente. E mesmo as novas histórias paralelas que introduziam pareciam um pouco deja vu de algo que já tínhamos visto.
Cath Duarte: Posso escrever uma dissertação sobre a minha relação com Grey’s xD ahahah. Agora não tenho tempo. Desistir de séries é algo que pouco faço, geralmente páro durante uns meses e retorno. Foi o que aconteceu com OUaT (ainda não voltei), The Walking Dead (ainda não voltei também), isto porque é normal cansarmo-nos um pouco das fórmulas. Para mim, numa série, o que me motiva a continuar a ver são as personagens. Se a série tiver uma premissa muito boa, efeitos, e até escrita, é tudo muito giro, mas se nenhuma das personagens me chamar a atenção, esquece. Preciso de personagens que de alguma forma me façam querer ver mais, querer saber sobre como se vão safar, ou como conseguem lidar com as coisas. É por essa razão que em algumas séries eu fico agarrada, até podem ter plots fracos, escrita medíocre, mas se tenho as tais personagens eu vou ver, vou querer acompanhar e tolerar tudo o resto que falta.
Joana Brás: Desisti de ver The Walking Dead (ninguém me bata please). No inicio adorava e via no momento em que saía. Mas a história acabou por se encaminhar para uma direção diferente que deixou de me cativar.
Adriano Carvalho: Raramente desisto de séries. Por norma, se não gosto depois de uns 3 episódios, nem sequer continuo. Posto isto, há 2 ou 3 séries de que “desisti”, não porque não goste delas, mas porque ainda não tive vontade de lhes pegar outra vez (tipo Better Call Saul). Isto aconteceu-me também com Breaking Bad e com The Wire: são séries tão pesadas, que se fazes binge watching por muito tempo, acabas por te cansar passado 2 temporadas. No entanto, sei que, assim que voltar a ver vou adorar, e acabo por ver o resto dos episódios
João Vieira: Eu já desisti da Guerra dos Tronos. Queres que te conte a história ou lembras-te? (Não, não me lembro, a minha memória é péssima, portanto vamos ficar sem saber o porquê).
Denise Liege: Eu desisto de séries. E desisto de séries que acompanho. Porque eu desisto? Quando a série deixa sua origem e passa e ser audiência, é número de espectadores que passa a comandar , um exemplo disso esta em Gray’s Anatomy, Walking dead caiu nio erro e recompops depois, nessa serie não se sabia se algum dos herois iria viver, até que para não matar um dos mais queridos o salvaram de uma situação impossével de sobrevivencia e tiveram que matar o personagem na outra temporada. Eu também , creio como todo mundo, assiste alguns episódios e ve o quanto é ruim , tanto em narrrativa como produção, exemplo Império. Creio que bom das séries é a possibilidade da narrativa se estender – muito mais longa que um filme – você se identifica com o personagem ou a história, no meu caso, poucas vezes pela realização. Eu vejo e nunca gosto de super heróis, acho todas muito ruins e poratanto parei, cansei dessa investida da Marvel em ganhar dinheiro sem parar., porque perde o foco. Eu asisto séries desde criança, portanto também éhabito de vida. Mas ator ruim é inaceitavel para mim,não consigo.
Daniela Vieira: Arrow porque virou uma novela… Tanto quiseram juntar o Oliver e a Felicity que para mim estragaram tudo. Once upon a time que já foi referido, ficou tão secante!!
Carolina Abrantes: Arrow tambem, das poucas series que desisti ao fim da 2ª temporada… ficou muito romantico e a abusar dos efeitos irreais e estilo “filmes da marvel”…
Luís Lourenço: Smallville quando era mais novo, Arrow, Heroes, Prison Break, recentemente Walking Dead já estou quase nesse ponto. A razão é simples. Não existe preocupação pela qualidade, pelo enredo. Enquanto existirem audiências, a série é extendida. Mesmo que exista uma clara redução da qualidade.
Rute Facote: Lembrei-me agora! Eu já desisti de algumas séries na medida em que as deixei de ver e ficaram para o futuro. No entanto, existe uma que eu tentei mas não consegui, der por onde der… Last Man on Earth… Eu tentei, o elenco apelava-me, mas não consegui ver mais que três ou quatro episódios… ficava sempre a achar que tinha sido das maiores perdas de tempo do quão ridícula toda a premissa era…
(Tinha esta rascunho perdido por aqui, finalmente viu a luz do dia)