Dexter: Resurrection

O SkyShowtime Portugal estreia esta sexta-feira, 12, «Dexter: Resurrection», a aguardada sequela que devolve ao pequeno ecrã o serial killer mais fascinante e perturbador da ficção contemporânea. Com um elenco de peso, a série promete revisitar a dualidade moral que tornou Dexter Morgan um ícone televisivo.

Dexter: Resurrection

personagens que se recusam a morrer, mesmo quando a televisão lhes fecha a porta. Dexter Morgan (Michael C. Hall) é uma delas. Depois de um final controverso e de um regresso em «Dexter: New Blood» que dividiu opiniões, o serial killer mais enigmático da era dourada da televisão norte-americana ressuscita em «Dexter: Resurrection». A promessa agora não é apenas continuar a história, mas confrontar o próprio legado da personagem: um espelho partido onde se refletem os seus fantasmas interiores e as expectativas do público. E, acima de tudo, o que Dexter projeta no olhar do seu filho, Harrison (Jack Alcott).

Em «Dexter: Resurrection», a “ressurreição” não se faz apenas pela continuidade de Harrison. A série convoca também os “fantasmas” do passado, figuras que ecoam a série original para deleite dos fãs, e assombram Dexter, reabrindo feridas que pareciam cicatrizadas. Este confronto interior ganha um contraponto de “carne e osso” com a reentrada de Angel Batista (David Zayas), antigo colega da Polícia de Miami, agora em busca de respostas.

Entre memórias e presenças reais, Dexter vê-se obrigado a encarar tanto a sombra dos que já não estão como a ameaça concreta de quem regressa, numa tensão que pode redefinir o rumo da sua história. Mais uma vez.

Dexter: Resurrection

O motor narrativo desta nova temporada nasce da investigação que se forma em torno de Harrison (e, inevitavelmente, de Dexter). A presença da detetive Claudette Wallace (Kadia Saraf), implacável e meticulosa, introduz uma ameaça direta: pela primeira vez em anos, alguém dentro da polícia parece capaz de ligar os pontos e aproximar-se perigosamente da verdade. A cada nova pista recolhida, Dexter vê a sua fachada de normalidade a desmoronar-se. É neste cruzamento entre o olhar da lei e os fantasmas do passado que «Dexter: Resurrection» encontra o seu gancho mais eficaz: a promessa de que o predador pode finalmente tornar-se presa.

No coração de «Dexter: Resurrection» está a relação entre Dexter e Harrison, marcada pela herança de sangue e pela difícil equação entre redenção e condenação. A nova temporada explora esse laço frágil, onde o instinto assassino e a busca por normalidade chocam a cada passo. Mas o regresso não se limita a este confronto familiar: a narrativa abre-se a novas tramas com a entrada de personagens que prometem abalar o equilíbrio precário.

E com nomes de peso. Uma Thurman interpreta Charley, a chefe de segurança do bilionário Leon Prater, vivido por Peter Dinklage, figura central na teia de poder e mistério que envolve esta temporada. A eles juntam-se Eric Stonestreet, Krysten Ritter, David Dastmalchian e Neil Patrick Harris, numa mão cheia de serial killers que transforma esta temporada num autêntico tabuleiro de predadores.

Dexter: Resurrection

Há quem se lembre da regra cruel do filme «Mean Girls» (2004): nem todos se podem sentar à mesa. Em «Dexter: Resurrection», essa ironia ganha um novo peso quando Dexter acredita, por um instante, que finalmente encontrou o seu lugar entre iguais. A promessa de pertença, no entanto, é uma miragem: no convívio dos predadores não há espaço para alianças duradouras, apenas para a próxima traição.

O que começa como um falso conforto transforma-se rapidamente numa armadilha. Para Dexter, que sempre equilibrou o instinto assassino com a necessidade de se sentir humano, esta nova comunidade revela-se um reflexo deformado, que expõe a sua solidão e o condena a encarar a verdade mais dura: no fim, está sempre sozinho.

Com tantos elementos em colisão – o vínculo frágil com Harrison, a investigação que o cerca, o confronto com Batista e a presença de novos predadores – «Dexter: Resurrection» constrói uma temporada de tensão acumulada. A série tenta equilibrar a herança pesada do passado com a necessidade de oferecer novidade, oscilando entre a intimidade psicológica que sempre definiu Dexter e a grandiosidade de um enredo mais alargado.

Essa ambição é, ao mesmo tempo, a sua força e a sua maior fragilidade: ao multiplicar vozes e ameaças, arrisca diluir aquilo que sempre manteve o público colado ao ecrã: a estranha humanidade e a caminhada solitária de um monstro à procura de redenção.

Dexter: Resurrection

No fim, «Dexter: Resurrection» não é apenas o regresso de uma série de culto, é o retrato de uma personagem que insiste em olhar-nos de frente, como se nos perguntasse até onde vai a nossa cumplicidade. Entre ecos do passado e novas ameaças, a temporada confirma que Dexter continua a ser um dos grandes paradoxos da televisão: monstruoso e, ainda assim, fascinante. Se o Showtime [canal original] procurava redenção após anos de críticas, encontra aqui um equilíbrio frágil, mas eficaz, capaz de devolver relevância a uma figura que se recusa a morrer. E lembra-nos que talvez seja precisamente na solidão e na eterna luta com o abismo que reside o fascínio de Dexter Morgan.

 

Texto originalmente publicado aqui

 

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