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As Flores Perdidas de Alice Hart: o trauma na (nossa) natureza

O Amazon Prime Video lança amanhã, 4 de agosto, a série «As Flores Perdidas de Alice Hart», baseada no livro com o mesmo nome.

As Flores Perdidas de Alice Hart

Das páginas escritas por Holly Ringland para o pequeno ecrã: a série «As Flores Perdidas de Alice Hart» ilustra em sete episódios a traumática jornada de Alice Hart (Alyla Browne/Alycia Debnam-Carey), uma criança com uma infância problemática que, após um trágico acidente, fica a viver com a avó June (Sigourney Weaver). Mas nem só de passado se constrói a difícil jornada de Alice: no presente há ciclos que se repetem, verdades que se revelam e, acima de tudo, o terminar de um processo de catarse onde a audiência serve de testemunha. Este é um drama intenso, que ganha uma nova complexidade com o maior protagonismo a personagens de segunda linha na adaptação de Sarah Lambert, que escreveu o argumento com Kirsty Fisher e Kim Wilson.

O episódio piloto não deixa ninguém indiferente, sobretudo pela forte carga emocional que encerra na primeira metade. A pequena Alice Hart (Alyla Browne) leva uma vida de altos e baixos com os pais, Clem (Charlie Vickers) e Agnes (Tilda Cobham-Hervey), numa moradia isolada de toda a gente e sem conhecimento de familiares próximos. Num episódio de ritmo intenso, onde o espectador conhece os melhores e piores momentos de Clem com a sua família, a dor de Alice transparece na bem conseguida performance da jovem Alyla, mas também nas interações que ela vai tendo com as pessoas (particularmente Sally, interpretada por Asher Keddie) e o meio que a rodeiam.

As Flores Perdidas de Alice Hart

Há uma beleza particular na história originalmente imaginada por Holly Ringland: uma comunidade de mulheres feridas pela vida que comunicam através de flores, numa linguagem desconhecida para o resto do mundo. Protegida. Também Alice aprende a fazê-lo, no rescaldo da perda dos pais e da sua dificuldade de comunicação. É quase poético, de uma brutalidade honesta, e adiciona novas camadas à história de Alice, June, Twig (Leah Purcell), Candy (Frankie Adams) e Boo (Maggie Dence), entre outras. A dimensão simbólica é muito forte e é possível fazer uma leitura da figura feminina na sociedade, a par de um comentário social muito presente, numa narrativa onde a mulher é a Fénix que renasce das cinzas.

A adaptação de «As Flores Perdidas de Alice Hart» ganha sobretudo por se multiplicar fora dos limites das páginas e da relação com o leitor. É possível dar mais profundidade a personagens, viajar de forma mais gráfica pelo tempo e pelo espaço, jogar com o poder do som e da imagem para criar os momentos que a leitura sugere. Os diálogos, mesmo quando há silêncio do lado de Alice, são muito significativos e tornam mais reais todas as dificuldades e obstáculos que vão surgindo. E, embora o passado fique tantas vezes em aberto, sabemos que, mais cedo ou mais tarde, lá vamos chegar…

As Flores Perdidas de Alice Hart

Com um equilíbrio bem conseguido entre a violência (maioritariamente psicológica), o drama e o mistério, «As Flores Perdidas de Alice Hart» segue na linha de projetos como «Big Little Lies» e «Nine Perfect Strangers», com os quais partilha a produtora Bruna Papandrea. Mais lenta e concetual, revela-se uma experiência visual mas também literária, em certa medida, e social, ao abordar temas como a violência doméstica e os traumas de infância. Que segredos escondemos de nós próprios? E uns dos outros? A resposta começa a ser dada amanhã no Amazon Prime Video.

 

Texto originalmente publicado aqui

 

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