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Fargo: O racismo e os gangues de Kansas City

A popular série antológica «Fargo» está de regresso para uma quarta temporada amanhã, 5, no TVCine Action. Três anos depois, Noah Hawley muda o “cenário” e arrisca, mas não desilude.

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Longe vai o tempo em que se temia o pior, quando foi anunciada uma série inspirada por um dos maiores sucessos dos irmãos Coen, «Fargo» (1996). O criador Noah Hawley não teve medo das “barreiras invisíveis” impostas pela história predecessora e, sem receios, reinventou a audácia da narrativa de uma maneira muito própria. Evitando caminhos eventualmente mais fáceis, Hawley conseguiu, temporada após temporada, surpreender a audiência e a crítica.

Sem mais nada a provar, Hawley regressa com uma história de outros tempos, mas que aponta à atualidade e aborda questões ainda bem presentes, a partir dos gangues de Kansas City. Chris Rock, mais conhecido pela longa carreira na comédia, tem um trabalho sério pela frente: o racismo embrenhado na sociedade norte-americana, a partir dos clássicos confrontos entre gangues. Parte da história dos EUA, a Máfia inspirou obras como «Tudo Bons Rapazes» (1990), «Era Uma Vez na América» (1984) ou a trilogia «O Padrinho».

«Fargo» estreia amanhã, 5, no TVCine Action às 22h10.

 

Fargo: Um novo rumo, o mesmo estilo

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Ethelrida Pearl Smutney (Emyri Crutchfield) é a narradora de serviço na quarta temporada de «Fargo». Num trabalho aparentemente escolar, a jovem explora a relação entre a história norte-americana, o crime organizado instalado e a rejeição dos imigrantes e afro-americanos. A série faz, aliás, uma relação muito interessante entre o tratamento de afro-americanos e italianos, com muitos espaços a rejeitarem a entrada a ambos.

Por outro lado, Hawley ilustra ainda, com a excentricidade habitual, a dinâmica entre máfias adversárias. A troca de filhos para ilustrar a aliança e aceitação do inimigo, com esta paz podre a acabar tendencialmente em tragédia. Um acordo amigável para evitar a chacina mútua entre rivais, que acaba, inevitavelmente, numa demonstração sangrenta de poder. Será de esperar o mesmo quando Loy Cannon (Chris Rock) desafiar a hegemonia dos italianos?

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Numa segunda camada narrativa, e com uma forte crítica social que atravessa épocas e gerações, a discriminação pela cor de pele. Ethelrida é castigada sucessivamente de forma injusta, posta de parte pela sociedade e nem o facto de ter um pai branco facilita a sua vida. Pelo menos à partida.

Sem descurar uma narrativa complexa, móvel e ousada, Hawley aborda a discriminação, de diferentes formas, a violência e os excessos como demonstração de poder. Ao mesmo tempo, continua com mortes inusitadas, ataques desleixados e personagens bizarras. Uma identidade que é inerente a «Fargo» e que, mesmo nesta temporada diferente das anteriores, ecoa o universo criado pelos Coen no ano 90. Mas, assim como nas histórias anteriores, a série de antologia também transpira o estilo já inconfundível de Hawley, um dos nomes fortes da atualidade televisiva.

Como não podia deixar de ser, «Fargo» é garantia de elenco de luxo. A Chris Rock juntam-se nomes como Jason Schwartzman, Jessie Buckley, Ben Whishaw, Jeremie Harris e Glynn Turman.

 

Texto originalmente publicado aqui

 

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