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É Tudo Uma Porcaria!: a pior (ou melhor) época das nossas vidas

«É Tudo Uma Porcaria!», a nova série da Netflix, cuja primeira temporada será lançada na totalidade no dia 16 de fevereiro, às 8 horas, tem como palco um liceu norte-americano nos anos 90. A METROPOLIS já iniciou este regresso ao passado; acompanha-nos nesta viagem?

É inevitável enquadrar a estreia de «É Tudo Uma Porcaria!» [«Everything Sucks!» no original] entre as apostas de sucesso do serviço de streaming Netflix, na linha de «Stranger Things» e «Por 13 Razões». A série criada por Ben York Jones e Michael Mohan leva-nos de volta aos anos 90, mais concretamente a 1996, e pega num grupo de jovens ‘caloiros’ no liceuLuke (Jahi Di’Allo Winston), Tyler (Quinn Liebling) e McQuaid (Rio Mangini) —, que se prepara para enfrentar os obstáculos mais difíceis da adolescência: os miúdos populares. No entanto, não se deixem enganar por estereótipos ou ideias feitas.

Pulseiras que rodeavam o pulso após uma “pancada”, Trolls e uma sucessão de “quantos-queres”. Ainda o primeiro episódio mal começou e já fomos transportados para outros tempos, que ecoam memórias não apenas dos adolescentes de 90, mas também dos anos seguintes. É que, apesar de «É Tudo Uma Porcaria!» ser uma série tipicamente americana, há muitas brincadeiras juvenis que nos remetem também para o passado português. Mas apertem bem os cintos, porque a viagem não acaba aqui: há a caraterização pelo vestuário, um clube audiovisual (como em «Stranger Things») e preconceitos sobre os quais mal se ousava falar.

Ao mesmo tempo que é um passado recente que nos parece já muito distante, demonstra ainda como, em termos sociais, as pessoas não evoluíram tanto como se julga. Enquanto «Stranger Things» se situava na década de 80, e frisava recorrentemente essa realidade, a nova série da Netflix opta por fazer enquadramentos sobretudo visuais e de caraterização. Da mesma forma, organiza o ambiente com música, linguagem e referências espaciais e pormenorizadas a momentos ou tendências que marcaram aqueles que experienciavam a adolescência há 20 anos.

Ainda assim, e ao contrário da trama dos irmãos Duffer, tem o principal conflito na rotina escolar, a partir da qual aproveita para escalar para uma discussão muito maior. Não é apenas uma batalha entre geeks e alunos populares — embora por vezes até pareça. Nada é inocente e, tal como se suspeitava, esta não é uma série infantojuvenil: atravessa gerações e dirá muito, certamente, aos nascidos nos anos 80 — e não só. Por seu lado, o elenco jovem soma créditos de respeito. Peyton Kennedy fez 14 anos recentemente, e já conta com uma carreira de quase seis anos. Jahi começou mais tarde, em 2016, mas soma créditos em êxitos como «Feed The Beast».

Este duo, no qual se centra parte da storyline, serve de exemplo para a qualidade que se pode encontrar em «É Tudo Uma Porcaria!», pelo que o melhor é não se deixarem enganar pela sua aparência franzina! É uma comédia, sim, mas é muito mais que isso: é uma discussão inevitável sobre as nossas memórias, as nossas experiências e, sobretudo, sobre a forma como a adolescência mexeu connosco e moldou a nossa personalidade. Afinal, para os mais jovens, tudo se vive com uma tal intensidade que todos os dias podem ser o fim do mundo…

Texto originalmente publicado na Metropolis.

 

Sara Quelhas

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