Demolidor: o reset da emoção

Depois de duas temporadas e um crossover a alta velocidade com resultados catastróficos, o Demolidor está de volta – alguém acreditou mesmo que ele ia morrer?! – esta sexta-feira, 19.

A Marvel replicou a fórmula do MCU (Marvel Cinematic Universe) na Netflix e, como resultado, as duas primeiras temporadas de «Demolidor» trabalharam em grande medida para fortalecer «Os Defensores», culminando com o confronto épico dos anti-heróis e da ‘Mão’ que teimava em estragar a tranquilidade de Nova Iorque. Com principal destaque para o combate anunciado e muito explorado entre o Demolidor (Charlie Cox) e Elektra (Elodie Yung), sendo o primeiro incapaz de salvar a mulher por quem estava apaixonado. Destruído física e emocionalmente, Matt Murdock desapareceu e foi dado como morto.

Torna-se quase irrisório que a Marvel tenha ‘sugerido’ a queda derradeira do Demolidor no final de «Os Defensores», quando um ano antes tinha sido anunciada a terceira temporada do justiceiro a solo. Embora a quase-morte tenha tido um propósito meramente narrativo, uma vez que contribui para o afastamento e reinvenção da personagem, acabou por não causar qualquer suspense durante o hiato. Ainda assim, o facto de não existir mistério ajuda a não distrair a audiência, pelo que o foco mantém-se no desenvolvimento das diversas camadas da ação, ao invés de se sugestionar um “Gato de Schrödinger”, onde não se sabia se Demolidor estava vivo ou morto até abrir a ‘caixa’.

O encontro com o anti-herói anuncia também a interação com um novo núcleo na terceira temporada: a Igreja. Chega a ser irónico que Demolidor, desesperado e sem qualquer proactividade, tenha de interagir com uma facção associada à esperança e a crença naquilo que não se vê – contudo, não é uma relação tão linear assim. Ao mesmo tempo, ressurge um vilão que impõe respeito, o Wilson Fisk de Vincent D’Onofrio, que sai finalmente da prisão sedento de vingança. Como se um inimigo não fosse suficiente, eis que é introduzido Bullseye (Wilson Bethel, «Como Defender um Assassino»), uma figura misteriosa que não olhará a meios para derrotar o Demolidor.

Assim como já aconteceu com as diversas apostas da Marvel na Netflix, a componente política e de reflexão social é muito forte. Enquanto Murdock faz um ‘reset’ emocional, numa redescoberta da sua essência pessoal e de Demolidor, Wilson Fisk assume contornos sobejamente reconhecidos, no que às figuras políticas internacionais mais extremistas e menos consensuais diz respeito (exemplo Donald Trump ou Vladimir Putin). Espera-se, portanto, muito qualidade da parte do novo criador Erik Oleson («Arrow», «The Man In The High Castle») e companhia.

Texto originalmente publicado na Metropolis.

 

Sara Quelhas

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