Chris Fedak, cocriador de «Chuck», regressa à criação de séries com «Deception», que estreia no TVSéries esta segunda-feira, 19.
É quase inglório falar de «Deception» sem estragar o primeiro ‘truque’ do episódio piloto, mas vamos tentar. Cameron Black (interpretado pelo promissor Jack Cutmore-Scott) é um mágico super popular que, depois de ver revelado o seu maior segredo, cai em ruína e fica condenado ao anonimato. Até um ano depois, altura em que a intervenção de outro ilusionista, num golpe ao FBI, o traz para o centro da ação. O truque, aparentemente impossível, é uma imitação de um desaparecimento que Cameron levou a cabo na televisão, pelo que o palco parece preparado para o atrair. E é isso mesmo que acontece.
Cameron intromete-se na equipa de Kay Daniels (Ilfenesh Hadera) e Mike Alvarez (Amaury Nolasco), ajudando a dupla graças à sua queda para a ilusão. Com um monólogo forte logo a abrir o episódio piloto, é certo que «Deception» não nos quer apenas iludir – quer também mostrar-nos como o faz. Quer isto dizer que, apesar da forma bem conseguida como os truques se sucedem no ecrã, Cameron não guarda segredos (até para desgosto de Alvarez, um claro fanboy do seu trabalho). Ainda assim, recorre a esta teia de enganos para ajudar as autoridades a deter o alvo em vista e, assim, conseguir mais pistas acerca do ilusionista mistério, que será, sem qualquer dúvida, o principal antagonista da primeira temporada.
A narrativa suave, a par da ação equilibrada e com um ritmo estável, torna o primeiro episódio de «Deception» fácil de ver. ‘Vendida’ como um drama policial, resulta muito mais como uma série de comédia que, a espaços, nos obriga a falar a sério. Em todo o caso, são 45 minutos de bom entretenimento que, apesar de não serem particularmente inovadores, reúnem excelentes ingredientes, nomeadamente intriga policial, mistério, magia e humor. Por um lado, Chris Fedak já sabe como se faz: criou e desenvolveu «Chuck» e produziu executivamente, no total, mais de 130 episódios para televisão. Por outro lado, grande parte do elenco quer mostrar-se, de uma vez por todas, a outro nível: Lenora Crichlow e Vinnie Jones estão longe de ser desconhecidos, mas há algum tempo que parecem condenados a séries curtas ou filmes de baixo alcance. Já Ilfenesh Hadera, a coprotagonista, quer provar que é mais do que uma das caras bonitas de «Baywatch: Marés Vivas» (2017), algo que não consegue no episódio piloto.
Espalhada e comentada pela Internet fora como a sucessora de «Castle», que chegou ao fim no canal ABC após oito temporadas, em 2016, «Deception» parece condenada a um chorrilho de críticas antes de lhe ser dada uma oportunidade real. Esta dissecação precoce torna-se ainda mais injusta se tivermos e conta que, à data da estreia de «Castle», em 2009, a série repetia a fórmula de apostas como «Núm3ros», «Psych» e «O Mentalista». Ou até «Chuck», lançada em 2007 por Chris Fedak e Josh Schwartz, e «Forever», de 2014, que Fedak produziu. Ter um civil, possivelmente com capacidades extraordinárias, a ajudar as autoridades – e com romance pelo meio – já deixou de ser ‘novidade’ há décadas. E isso não tem mal nenhum.
Nem todas as séries precisam de ter uma premissa arrasadora como «Westworld», «The Handmaid’s Tale» ou «Stranger Things». Algumas querem ser apenas entretenimento, e compete a cada espectador decidir se isso lhe interessa ou não. «Deception» estreia esta noite às 21h15.
Texto originalmente publicado na Metropolis.