HBO MAXREVIEWSSTREAMING

Roy Cohn: o anticomunismo, a SIDA e Donald Trump

Tive acesso antecipado ao documentário «Bully. Coward. Victim. The Story of Roy Cohn» (2020), que é lançado hoje na plataforma de streaming. Um dos melhores amigos de Donald Trump na década de 70 e 80 é pintado à sua pior luz.

Bully. Coward. Victim. The Story of Roy Cohn

Apesar da sua relativa curta duração (1h30), o mais recente documentário da HBO Portugal abrange uma vasta amplitude de temas e traça o perfil de uma das figuras mais misteriosas e polémicas do seu tempo, nos Estados Unidos: Roy Cohn. Sem escrúpulos e constantemente perto do poder — de forma a poder usá-lo em seu proveito —, este homem da lei construiu vários inimigos ao longo da sua vida, mas pareceu conseguir sempre sair vitorioso. Até que a saúde, que não olha a estatuto ou manipulações, o tramou.

Embora seja uma personalidade mais ligada ao imaginário norte-americano, o nome Roy Cohn será familiar para quem viu a série de 2003 «Anjos na América», que contava como atores como Al Pacino, Meryl Streep ou Emma Thompson, entre muitos outros. A narrativa era baseada numa peça da autoria de Tony Kushner, que chegou ao palco da Broadway pela primeira vez em 1993: uma história relacionada com o impacto da SIDA nos anos 80.

Bully. Coward. Victim. The Story of Roy Cohn

Anticomunista, usou e abusou do seu poder para condenar alegados espiões soviéticos, sem qualquer pudor em inventar provas ou enganar o poder judicial. Entre a lista de vítimas do seu “regime”, contam-se dois dos protagonistas de «Bully Coward Victim The Story of Roy Cohn» (2020): Julius e Ethel Rosenberg. É um dos seus filhos, Michael Meeropol, que enceta a discussão, mencionando a acusação — que acreditava ser infundada — que resultou na morte dos seus pais. Quantos inocentes terão morrido à conta da perseguição ao Comunismo?

Quando pensamos que o documentário se dirige para um lado, ele finta-nos. À conversa do abuso de poder judicial junta-se o abuso de poder generalizado, seja para obter privilégios ou favorecer amigos e conhecidos. Donald Trump era um dos amigos do advogado, pelo que são comuns as fotografias em conjunto e os elogios públicos e mútuos. Falar de Roy Cohn é falar de política, e a análise feita ao presente através do passado é também um dos fios condutores. Evitando julgamentos diretos, «Bully Coward Victim The Story of Roy Cohn» (2020) desafia o espectador a percorrer esse caminho.

Bully. Coward. Victim. The Story of Roy Cohn

Homossexual não assumido, esteve contra os direitos LGBT até ao fim, sempre em negação da sua orientação sexual, ainda que fosse comum estar com homens bem-parecidos e em eventos notoriamente gay. Acompanhado até ficar doente por diversas pessoas influentes e uma vida de luxo, acabou os seus dias praticamente sozinho. Este é mais um dos temas principais que, além de Roy, estabelece uma contextualização da época em que viveu, e viria a morrer.

Há uma sensação de insatisfação no final do documentário realizado por Ivy Meeropol, não por falta de qualidade, mas antes por ficar à superfície. Uma minissérie permitiria aprofundar mais cada um dos temas, em vez de os tratar mais levianamente e com um propósito claro: criar a figura de Roy Cohn presente para o espectador.

 

Texto originalmente publicado na Metropolis

 

 

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *