American Horror Stories: ruína ou desconstrução?

O Disney+/Star estreia amanhã, 8, o spin-off «American Horror Stories». Fica a saber o que tenho a dizer sobre esta antologia de terror.

A principal vítima do império televisivo criado por Ryan Murphy é, cada vez mais, o próprio Ryan Murphy. Com sagas consolidadas como «American Horror Story» e «American Crime Story», a par de um negócio multimilionário com a Netflix, as ideias coladas ao seu nome estão longe de ser recebidas com o entusiasmo de outros tempos. Seja por considerarem o conceito desgastado ou por repetição de fórmulas, a verdade é que também «American Horror Stories», uma espécie de spin-off de «American Horror Story» com mini-histórias de terror, não teve a vida facilitada antes da estreia. E muito menos depois.

As versões express do universo do terror, que tantas alegrias deu a Ryan Murphy e companhia, ficam muito à superfície ou são narrativas recicladas e gastas de outras ideias? Ambas as questões colocam um peso demasiado alto em «American Horror Stories», pelo que será interessante levantar outra possibilidade: não será a série uma caricatura (menos comédia, mais desconstruída) da massificação do terror no pequeno e grande ecrã? A criação de Ryan e Brad Falchuk não se distingue pela inovação ou pela ousadia, mas antes pelo novo olhar sobre mitologias comuns, como casas assombradas, vírus reativos ou acampamentos; sem prometer nada mais do que uma viagem divertida… e sangrenta.

Sem escapar aos clichés e twists embaraçosos próprios de algumas tramas do género, «American Horror Stories» aposta em argumentos simples e de fácil resolução, que dão protagonismo ao conceito ao invés da ação elaborada. Caindo teimosamente em alguns lugares-comuns, que têm influência direta na falta de eficácia dos seus twists, acaba por privilegiar a forma em vez do conteúdo, aplicando com rigor o mote das short stories: impacto rápido, mas fugaz. Até o suposto handicap nalgumas interpretações, sobretudo do elenco teen, é percetível como uma recriação do género, sobretudo num eco de outras décadas, onde desempenhos mais tenros eram um habitué dos filmes de terror.

Respondendo à questão do título, «American Horror Stories» é sobretudo desconstrução: de conceitos, de ideias feitas, de clichés e do terror perante si próprio. Sem a responsabilidade de uma temporada completa, que exige mais do elenco, da narrativa e da concretização do argumento, a nova série FX, que em Portugal tem lançamento no Star, é um projeto a ver sem expetativas.

O elenco integra alguns dos “meninos” e “meninas” bonitos de Ryan Murphy, como Matt Bomer, Billie Lourd, Dylan McDermott, Kevin McHale, John Carroll Lynch, Jamie Brewer ou Cody Fern.

 

Texto originalmente publicado aqui

 

 

Sara Quelhas

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