A RTP 1 estreia mais uma aposta de relevo: «A Travessia» recupera a ilustre jornada aérea de Sacadura Cabral e Gago Coutinho, um feito histórico para Portugal nos “loucos anos 20”.
É certo que, aos dias de hoje, as viagens aéreas se tornaram algo banal, mas essa evolução proporcionada pela tecnologia era, há cerca de um século, um desejo aparentemente impossível. E, na minissérie «A Travessia», percebemos isso mesmo: em 1922, Sacadura Cabral (Gonçalo Waddington) e Gago Coutinho (Miguel Damião) transformaram a navegação aérea ao concretizarem a primeira travessia do Atlântico Sul, entre 30 de março e 17 de junho, numa viagem que ligou Lisboa ao Rio de Janeiro.
“Cabe-nos a nós decidirmos o que seremos a cada momento. Mas eu entendo, tocou o Céu, nada mais o satisfaz“. As palavras de Santos Dumont (Eduardo Felipe), aviador brasileiro, em conversa com os então tidos como iludidos, Sacadura Cabral e Gago Coutinho, resumem perfeitamente o motor de «A Travessia».
Numa altura em que a tecnologia revolucionava a forma de ver o mundo, e Portugal ia ficando para trás, só os mais sonhadores podiam desafiar o status quo. Ao ver outros aviadores cruzarem os céus e fazerem história, Sacadura Cabral ambiciona atravessar o Atlântico Sul e voltar a colocar o seu país na rota do sucesso; no entanto, num Portugal falido, torna-se muito difícil convencer o Governo a investir na sua ambição.
É este o passado que a nova aposta da RTP1 recupera, ilustrando não só a competição internacional, como a interna, nomeadamente entre Sacadura Cabral e Sarmento Beires (Francisco Froes). Com múltiplas personagens e storylines devidamente estruturadas, a trama vai navegando, em terra e no ar, os conflitos principais e secundários, que antecipam um dos feitos mais emblemáticos de Portugal no século XX. Ao mesmo tempo, desmistifica a ideia de heróis e vilões, transformando “ídolos” históricos em pessoas comuns que, tal como pessoas comuns, têm sonhos, frustrações e desafios… um deles a burocracia.
O elenco inclui nomes como Júlia Palha, Vicente Wallenstein, Rafael Gomes, Tiago Costa, Maya Booth, Soraia Chaves, Adriano Luz, Diana Costa e Silva, Fernando Luís, Gonçalo Botelho e Sabri Lucas, entre outros.
Com uma realização sóbria de Fernando Vendrell, «A Travessia» apresenta uma perspetiva plural, alternando entre a tensão e pressão do quotidiano e o lado aventureiro das cenas de aviação. Da mesma forma que torna mais complexa a realidade social e pessoal dos intervenientes, também projeta uma vertente de sonho e pesadelo nas cenas aéreas, com momentos de euforia e de aflição, e ainda momentos de decisão. O argumento destaca a coragem e determinação destes pioneiros da aviação, evidenciando não apenas o espírito de aventura que os moveu, mas também o impacto científico das suas inovações nas que se seguiram.
«A Travessia» não é apenas uma homenagem aos feitos históricos dos aviadores portugueses; é igualmente um lembrete e uma ode ao espírito humano de superação e descoberta. A aposta equilibra entretenimento e História de forma bem conseguida, oferecendo ao público uma perspetiva inspiradora sobre um marco nacional.
Texto originalmente publicado aqui
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