The Full Monty: à deriva, outra vez

O Disney+ estreia esta quarta-feira, 14, a continuação da história trazida ao grande ecrã em «The Full Monty» (1997). O elenco original está de regresso, trazendo consigo novas personagens.

Nomeado a quatro Óscares em 1998, incluindo Melhor Filme e Melhor Realizador, «The Full Monty» (1997) [traduzido em Portugal para «Ou Tudo ou Nada»] foi uma surpresa e acabou por conquistar a estatueta na categoria de Melhor Banda Sonora Original. Mais de 25 anos depois, as personagens da longa-metragem regressam no streaming, com uma série que recupera as personagens originais e imagina a sua atualidade. «The Full Monty» está longe da história original, onde um grupo de homens desafortunados tentava a sua sorte no strip, mas mantém o espírito original, com a vida difícil da classe média-baixa em clima de crise económica e até moral.

Simon Beaufoy, o argumentista original, que venceu o Óscar por «Quem Quer Ser Bilionário?» (2009), escreve com Alice Nutter as novas aventuras e desventuras do gangue. Com outra idade, mas os mesmos laivos de imaturidade, o grupo original tenta mover-se numa sociedade cada vez mais modernizada, politizada e volátil, a que não são indiferentes as gerações mais novas. Gaz (Robert Carlyle) mantém-se à margem, mas agora atravessa também as provações de ter uma filha adolescente, Destiny (Talitha Wing), além de Nathan (o mesmo ator do filme, Wim Snape), que integra agora a força da autoridade.

Por sua vez, Dave (Mark Addy) continua a ser o elemento mais low profile, agora com um emprego na escola, onde Jean (Lesley Sharp) desempenha um papel de grande importância. Com baixa autoestima e pouco comunicativo, Dave encontra um melhor amigo numa criança de 12 anos, Twiglet (Aiden Cook). Esta parelha acaba por trazer ao de cima o melhor e o pior que «The Full Monty» quer ilustrar, não dependendo, em termos de narrativa, em demasia de personagens como Gaz ou Gerald (Tom Wilkinson).

«The Full Monty» é o que se espera de uma sequela. Sem se colar excessivamente à história original, aceita-a e usa o histórico para desenvolver as personagens que continuam. Não obstante, também as novas personagens denotam grande influência destes velhos conhecidos, sendo um produto claro do meio em que surgiram. Da mesma forma, a sociedade que se desenha, em turbulência suave, é um espelho dos problemas que, tantos anos depois, se mantêm. Podem ter novas formas, assumir novos nomes ou novos desafios, mas o contexto da série não é muito diferente daquele que encontrávamos no filme [também disponível no Disney+, e que é recomendável ver primeiro].

 

Texto originalmente publicado aqui

 

Sara Quelhas

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