The Agency: a casa em ruínas dos sem-casa

Com Michael Fassbender à cabeça e um elenco de luxo, «The Agency» é a mais recente aposta do streaming SkyShowtime. A série aborda o mundo da espionagem e a complexa teia de intrigas que envolve o centro da ação, os agentes, as missões e a vida familiar (possível).

Ação, drama psicológico e tensão: são estas as três ideias-chaves que alavancam «The Agency», a nova série de espionagem SkyShowtime, que mistura géneros e entrega uma envolvente história de drama, thriller e até romance. A série, já renovada para uma segunda temporada, apresenta um argumento denso e entusiasmante, que parte da bem conseguida série francesa «Le bureau des legendes», que se estendeu de 2015 a 2020 e onde é incontornável destacarmos o seu protagonista, Mathieu Kassovitz (O Fabuloso Destino de Amélie, O 5º Elemento).

A premissa, embora simples, é atrativa. Um agente secreto da CIA, Brandon Colby “Martian” (Michael Fassbender), é retirado da sua vida de infiltrado e tem de regressar a Londres, onde é incluído na Agência e em missões exigentes, ao mesmo tempo que é mantido sobre vigilância. O principal problema é que, apesar de as regras da sua vida profissional serem bastante claras, Brandon apaixonou-se… E essa fragilidade pode colocar em risco não só a sua carreira, como toda a estrutura em que está inserido. Passo a passo, o argumento estica-se para múltiplas storylines, adensando o clima de constante tensão e desconfiança.

No centro da ação encontramos um conflito heterogéneo entre aquela que é a lealdade institucional e a identidade pessoal, um dilema clássico em histórias do género. Não obstante, e ainda que não haja uma inovação excecional, a série procura equilibrar os bastidores da vida da Agência e a ação (e incerteza) do campo. Para cumprir esse objetivo, evita uma construção sensacionalista e aposta em algo mais realista, mesmo que para isso tenha de criar mais linhas narrativas de “secretária” ou “caseiras”.

Uma série sem pressas, «The Agency» chama desde logo à atenção por causa do seu elenco, onde se destacam nomes sonantes como Richard Gere, Jeffrey Wright, Katherine Waterston, John Magaro, Hugh Bonneville e Dominic West. Embora seja o cast o primeiro fator de interessente, é um ingrediente essencial, já que os atores dispensam apresentações e conhecemos o nível de performance que entregam.

Sami (Jodie Turner-Smith) funciona como a balança emocional, tornando mais percetível a dualidade em que vive Brandon, em particular, e os agentes infiltrados em geral. Longe de serem máquinas, estes agentes comprometem-se e comprometem, por vezes, quem os rodeia – uma decisão de segundos pode ter implicações duradouras e imagináveis. Da mesma forma, a série tenta mostrar, ainda que através da ficção, uma perspetiva mais aproximada de conflitos mundiais que marcam a atualidade.

Este é, resumindo, um thriller sofisticado que aposta sobretudo na construção psicológica das personagens, evitando uma ação desenfreada; tendo, naturalmente, implicação no ritmo que pode ser mais lento. Para quem aprecia narrativas de espionagem com uma abordagem mais cerebral, a série oferece um argumento envolvente e bem conseguido. Com um elenco talentoso e uma estética competente, esta produção estabelece-se como uma das mais interessantes do género nos últimos anos.

 

Texto originalmente publicado aqui

 

Sara Quelhas

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