O canal AXN Portugal estreou recentemente a série «Long Bright River», protagonizada por Amanda Seyfried. A história é baseada no livro homónimo de Liz Moore, publicado em 2020.
A investigação de uma onda de homicídios numa comunidade marginalizada serve de pano de fundo à história de duas irmãs separadas pelas escolhas de vida e por um passado comum, marcado pelo abandono, pela pobreza e pelo vício. Em «Long Bright River», a agente da polícia Mickey (Amanda Seyfried) lida diariamente com casos de overdose, violência e negligência social. Quando várias mulheres são encontradas mortas e a sua irmã, Kacey (Ashleigh Cummings), toxicodependente, desaparece sem deixar rasto, Mickey vê-se forçada a confrontar não só os perigos do seu trabalho, mas também os fantasmas da infância e a ligação fragilizada com a única família que lhe resta.
«Long Bright River» combina uma investigação criminal com uma narrativa pessoal, explorando temas como o vício, a perda, a maternidade e a procura por redenção. Mickey, mãe solteira, ainda em convalescença após o seu parceiro de patrulha, Truman (Nicholas Pinnock), ter sido gravemente ferido, mergulha numa sequência de crimes em que as vítimas parecem ser sistematicamente ignoradas pelas autoridades. O padrão dos crimes é familiar: mulheres jovens, em situação de vulnerabilidade, muitas delas marcadas pelo consumo de drogas – um espelho da própria irmã de Mickey. Dividida entre o dever profissional e o desespero pessoal, a agente inicia uma busca solitária que a obriga a enfrentar memórias dolorosas e a desvendar verdades que preferiria esquecer.
O ritmo narrativo é deliberadamente pausado, introspetivo, com momentos de tensão bem geridos e pontuados por silêncios. Não se trata de um policial de ação constante, mas sim de um drama emocional e denso, onde cada cena carrega o peso das experiências vividas pelas personagens. A escolha narrativa favorece a introspeção da protagonista, permitindo ao espectador mergulhar na sua dor, frustração e sentimento de impotência.
Entre os subtemas, destacam-se o vício como doença sistémica, as relações familiares disfuncionais, a desigualdade social enraizada em comunidades negligenciadas, e a justiça seletiva, que parece proteger uns e esquecer outros. A série faz uso frequente de flashbacks, compondo uma estrutura narrativa não-linear. Esta abordagem permite desvendar a história familiar de Mickey e Kacey, revelando camadas emocionais e traumas antigos que ajudam a compreender o presente.
Por seu lado, «Long Bright River» é uma meditação poderosa sobre trauma e resiliência. As cicatrizes emocionais das personagens não desaparecem, mas moldam as suas ações. A resiliência não é apresentada como superação heroica, mas como um esforço diário de sobrevivência, silencioso, persistente e humano. A crise dos opiáceos, que devastou comunidades inteiras nos EUA, surge aqui não como pano de fundo distante, mas como força motriz da ação. O vício é retratado sem moralismo, com empatia e complexidade; como consequência do abandono e da exclusão.
No final, «Long Bright River» fala menos sobre crime e mais sobre os laços invisíveis que nos unem, mesmo quando tudo o resto falha. A protagonista caminha por ruas frias e perigosas, mas é dentro de si que trava a verdadeira batalha. Como um rio longo e brilhante que corre silencioso por debaixo da superfície, a série transporta os espectadores por correntes emocionais densas e difíceis, onde a luz raramente é visível; mas onde, ainda assim, existe.
Texto originalmente publicado na Metropolis
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