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Lockwood e Cia.: fantasmas fechados em casa

Estreia amanhã, 27, a nova adaptação da Netflix dos livros para o pequeno ecrã: «Lockwood e Cia.». A série dá o protagonismo a Ruby Stokes, a Francesca da família «Bridgerton», acompanhada por Cameron Chapman e Ali Hadji-Heshmati.

O que poderá trazer de novo uma série sobre adolescentes com talentos paranormais? É esse o grande desafio de «Lockwood e Cia.», uma aposta que pega na fórmula que já tantas alegrias deu ao streaming, mas que tem demorado a repetir a proeza com algo verdadeiramente novo e refrescante. A série recorre a uma fandom já estabelecida por causa dos livros de Jonathan Stroud, procurando também cativar novas audiências.

Por um lado, a Netflix aproveita o êxito de «Bridgerton» e trazer uma das irmãs da família principal, ao mesmo tempo que opta por segundas linhas menos conhecidas, com a segurança da realização nas mãos de profissionais que passaram por séries como «His Dark Materials» ou «Downton Abbey», bem como nomes do cinema, nomeadamente Joe Cornish, de «Ets in da Bairro» (2011). Uma tentativa de combinar o hype instalado na plataforma com um estilo sóbrio e bem conseguido; como um aluno que, não sendo brilhante, consegue “passar” com relativa facilidade.

«Lockwood e Cia.» relata a história da agência juvenil com o mesmo nome, comandada por Anthony Lockwood (Cameron Chapman), mas que tem em Lucy Carlyle (Ruby) a sua mais brilhante e inesperada estrela. Esta é apenas uma das agências especializadas no controlo e destruição de fantasmas, que têm assombrando e perseguido inúmeras pessoas, e cujo toque fatal tem causado a morte a um infindável número de civis e até adolescentes “profissionalizados” nestas andanças. O clima de medo resultou numa hora de recolher, assim como numa crise económica de grande dimensão. A clivagem entre classes é grande e, além disso, existe um claro ambiente de conspiração… e corrupção.

A premissa central da série é interessante: Lucy não tem um núcleo familiar forte, a mãe trata-a como mercadoria, as primeiras experiências de caça-fantasmas não são as melhores e, numa segunda fase, não se torna claro o que lhe vai acontecer. Mas a audiência, com visão privilegiada sobre a realidade, ainda que incompleta, acaba a torcer por aquela personagem e pelos seus parceiros, bem lançada para uma maratona que, finalmente, desvende todos os mistérios. Sem episódios particularmente inovadores ou incríveis, a verdade é «Lockwood e Cia.» tem um ingrediente tão ou mais importante: suspense.

O primeiro caso de Lucy na agência de Lockwood é bastante complexo e misterioso, revelando desde cedo que o contexto aparentemente muito simples não é assim tão claro. De que lado está o bem, se o mal não é assim tão claro? Será que as desconfianças em relação à ordem instaurada têm razão de ser? Quem já leu os livros já terá algumas respostas e a exigência lá em cima, mas para os passageiros de “primeira viagem”, a série pode tornar-se uma experiência de visualização divertida e leve (com o ocasional susto, muito ligeiro, próprio das narrativas de fantasmas).

 

Texto originalmente publicado aqui

 

Sara Quelhas

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