Lance Livre: John Stamos a toque de “cadeirada”

Depois do final (outra vez) de «Fuller House», o spin-off da série que o tornou uma estrela global, John Stamos assume o papel principal em «Lance Livre», do Disney+. O primeiro episódio fica disponível amanhã, 16.

Pouco tempo após a estreia de «A Hora dos Campeões: Uma Nova Era», o streaming Disney+ lança mais uma série para toda a família. «Lance Livre» [Big Shot no original], protagonizada por John Stamos, conta as peripécias de um treinador de basquetebol de topo quando é obrigado a começar praticamente do zero. Na sequência de uma atitude violenta em campo, Marvyn Korn (John Stamos) é escorraçado do NCAA e a única oportunidade de emprego surge numa escola secundária e privada de raparigas, como “prenda” de um dos patrocinadores (Michael Trucco).

Só a premissa já antecipa que esta aventura tem tudo para correr mal. A equipa de basquetebol é composta por jovens de elite, em evidência pelo destino de sucesso que já lhes é traçado. O choque com o feitio de Marvyn é inevitável e praticamente imediato, com o treinador a comprar logo uma guerra com a estrela da equipa e filha do patrocinador, Louise Gruzinsky (Nell Verlaque). A sua falta de sensibilidade, nomeadamente na referência ao peso das jogadoras, é também um entrave e anuncia uma relação condenada à partida.

Com uma tendência cómica e uma storyline prática e leve, «Lance Livre» reflete sobre as dificuldades de um pai à deriva no seu próprio mundo. Embora se vista com contornos de dramédia escolar, a série destaca-se na elaboração da relação de Marvyn com a filha, Emma (Sophia Mitri Schloss), com a qual mantém uma ligação à distância, depois da separação da mãe desta. A interação de Marvyn com as alunas espelha a sua capacidade, ou falta dela, no equilíbrio entre o lado profissional e pessoal, denunciando o que lhe tem corrido mal em termos familiares.

You’re not famous. You’re infamous. A frase de Holly (Jessalyn Gilsig, Glee), a treinadora assistente, traça de forma bastante rápida o perfil de Marvyn. Apesar do seu êxito histórico na competição de alto nível, as atitudes irrefletidas e a postura arrogante acabam por marcar o seu caminho. Rejeitado pela generalidade dos colegas, é uma verdadeira dor de cabeça para Sherilyn (Yvette Nicole Brown, Community), a diretora que o continua a defender. Sobretudo por conta da professora Grint (Toks Olagundoye), que considera o seu vedetismo uma ofensa para a classe escolar, até pela diferença salarial.

Ainda que não se leve muito a sério, «Lance Livre» acaba por atravessar vários setores que podem estabelecer empatia com a audiência. Seja crescer com pais separados ou ausentes, passar pela dor do luto ou corresponder à expetativa dos pares. Como fio condutor, a cliché história de uma equipa underground que quer vencer, mesmo quando ninguém acredita que é capaz. O desafio da série do Disney+ é provar que é mais do que isso. E tem instrumentos narrativos para tal, assim os saiba aproveitar.

Esta é mais uma criação de David E. Kelley (Ally McBeal, Big Little Lies), desta vez em parceria com Dean Lorey.

 

Texto originalmente aqui

 

 

Sara Quelhas

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