Tive acesso antecipado aos três primeiros episódios de «Daqui Houve Resistência», da RTP1. A série inspira-se em histórias reais da resistência e luta antifascista no norte de Portugal, nos anos que antecederam o 25 de Abril.
Durante o Estado Novo, Portugal viveu décadas de censura e medo, com perseguição feroz a qualquer movimento contrário ao regime. Mas entre operários, estudantes, militares e ativistas, surgia uma resistência discreta que, ao longo dos anos, se transformaria numa força imparável até à vitória da liberdade no 25 de Abril de 1974. Cada panfleto distribuído, cada reunião clandestina, cada palavra dita nas sombras: tudo representava um ato de coragem que, somado a tantos outros, acabaria por reescrever a história do país.
Revisitar este passado, especialmente através de narrativas como as de «Daqui Houve Resistência», é essencial para manter viva a memória coletiva. Num tempo em que a democracia é, por vezes, tomada como garantida, relembrar a coragem de quem enfrentou a ditadura sem garantias de vitória é um gesto de reconhecimento e um alerta para as gerações presentes e futuras.
A série é inspirada no livro Guimarães – Daqui Houve Resistência, de César Machado, lançado em 2014, e que contém 25 testemunhos reais. Através das suas mais de 400 páginas, é possível recordar como a cidade de Guimarães e o norte de Portugal desempenharam um papel decisivo na resistência ao regime do Estado Novo. Ao dar visibilidade a essas histórias, muitas vezes esquecidas, a obra – agora adaptada a série – oferece uma nova perspetiva sobre a luta antifascista, ampliando a compreensão sobre a importância da mobilização para lá dos holofotes da capital.
«Daqui Houve Resistência» apresenta o norte de Portugal não apenas como um cenário periférico, mas como um ponto estratégico e fundamental na resistência à ditadura. Com a ajuda de vozes e experiências de operários, estudantes e ativistas, a produção destaca como o interior do país foi um campo de batalha crucial na luta pela liberdade. Esta abordagem reforça que a Revolução dos Cravos não foi obra de uma elite isolada, mas uma verdadeira luta nacional, que se estendeu por diversas regiões e assumiu múltiplas formas.
A ligação entre memória e democracia é clara: sem recordar os sacrifícios feitos para conquistar a liberdade, corremos o risco de esquecer as fragilidades do sistema político e os desafios que a democracia enfrenta. Ao longo de cinco episódios, «Daqui Houve Resistência» chama para a ribalta as vidas do capitão de Abril Rui Guimarães (Nuno Nolasco), dos símbolos da revolta estudantil Alberto Martins (João Nunes Monteiro) e Fernanda Bernarda (Inês Filipe), e do professor e democrata Santos Simões (João Pedro Vaz), entre muitos outros.
A narrativa provoca uma poderosa reflexão sobre o que significa lutar pela liberdade e pela justiça. Ao revisitar a história da resistência, a série reitera que as transformações sociais e políticas não acontecem necessariamente de cima para baixo, mas sim através das ações de pessoas comuns, que ousam desafiar um sistema injusto. Reconhecer e valorizar a resistência do passado é mais do que uma homenagem: é uma lembrança de que as lutas sociais e políticas nunca devem ser dadas como garantidas, e que a coragem de resistir, por mais silenciosa que seja, é fundamental para o progresso.
A série estreou dia 25, na RTP1 e prolonga-se até 2 de maio, tendo realização de Edgar Pêra e Carlos Amaral. Além dos atores já mencionados, podemos encontrar também António Durães, Miguel Borges, Diana Sá, Carolina Amaral, Joana Ribeiro, António Capelo, Paulo Calatré, Hugo Nicolau, Valdemar Santos, Miguel Moreira e Emília Silvestre, entre muitos outros.
Texto originalmente publicado na Metropolis
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