Trackers: em terra de diamantes, nem tudo o que reluz é joia

A HBO Portugal prepara-se para lançar «Trackers», uma série sul-africana desenvolvida por um trio de canais: Cinemax, M-Net e ZDF. Fiquem com a análise aos três primeiros episódios.

Numa altura com tanta oferta televisiva, a exigência por parte do espectador e da própria crítica acaba por ser maior. Tal como acontece no quotidiano profissional, ver séries envolve uma certa gestão de tempo e, por conseguinte, privilegiar um leque de séries em detrimento de outras. A série pode partir de uma boa ideia, mas, se depender apenas do seu conceito e tardar a executá-lo, depressa fica a perder. É este o sentimento que fica depois de três episódios de «Trackers», cujo primeiro episódio chegou à HBO este sábado, 6.

Inspirada num livro de Deon Meyer, publicado em 2011, a série foi filmada na totalidade na África do Sul e conta com um grupo significativo de atores sul-africanos, onde se destacam Rolanda Marais, uma mulher em fuga do marido abusivo, e Sandi Schultz, que interpreta a mulher-forte à frente da PBI (uma espécie de CIA da África do Sul). Além destas duas storylines, que se cruzam quando Milla Strachan (Marais) é contratada como “curadora” de informação da agência, destaca-se a linha protagonizada pelo escocês James Gracie, na pele do misterioso Lemmer e, mais tarde, a intervenção do inglês Ed Stoppard.

Entre o tráfico de diamantes e de armas, a criminalidade ecoa como uma ameaça cada vez mais presente. As diferentes histórias vão-se desenvolvendo, nem sempre da melhor maneira, e, eventualmente, o auge da ação surge como uma inevitabilidade; caso não haja a capacidade de cortar este problema pela raiz, pessoas inocentes podem pagar com a própria vida. O agente Quinn (Thapelo Mokoena) é um dos inconformados e nem sempre está disposto a seguir as regras.

Ainda que o tema não seja propriamente inovador, a verdade é que a promoção de uma série feita na África do Sul, com a capacidade de incluir a comunidade e idiomas fora do mainstream inglês, prima logo pela ousadia. E isso já ninguém tira a «Trackers» e aos canais envolvidos. No entanto, à medida que a série se desenvolve, pouco mais parece ser convincente, desde o argumento à interação entre as personagens.

Quem não souber que «Trackers» não é originalmente da HBO (ainda que com a colaboração de um canal “irmão”, é certo), irá certamente percebê-lo nos problemas de concretização – pouco usuais em apostas próprias da super-produtora. Promovida como um thriller de ação, «Trackers» não se distingue num campo nem noutro. Falta-lhe a profundidade do primeiro e, embora na ação conquiste alguns pontos pela naturalidade – cenas sem os efeitos técnicos e over the top de outras séries –, o ritmo lento castiga o desenvolvimento da narrativa e, consequentemente, o interesse de quem vê.

Originalmente publicado na Metropolis.

Sara Quelhas

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