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Polar Park: o (des)encanto do Ártico

Há um assassino em série à solta a partir de hoje, no AMC Portugal. «Polar Park» é a nova aposta do canal do cabo, que combina mistério, segredos e literatura.

Um thriller noir francês, que se destaca pela sua abordagem intrigante e pela atmosfera gélida da vila mais fria de França, Mouthe. A série «Polar Park» combina mistério e humor negro, o que resulta numa narrativa envolvente onde múltiplos caminhos se cruzam, ligados por um fio de tensão crescente. Criada e realizada por Gérald Hustache-Mathieu, esta aposta transporta a audiência para um enredo onde arte e crime se fundem de forma inesperada, desafiando as convenções das histórias policiais.

A trama gira em torno de David Rousseau (Jean-Paul Rouve), um escritor de romances policiais que, atormentado por um bloqueio criativo e por um segredo relacionado com a sua mãe, regressa a Mouthe. No entanto, a tranquilidade da vila é abalada por um homicídio brutal, no qual a vítima foi posicionada de maneira específica, para reproduzir uma obra de arte. Este acontecimento desencadeia uma série de crimes semelhantes, transformando a vila numa inquietante galeria de mortes…

Por sua vez, Louvetot (Guillaume Gouix) é um agente pragmático e adepto de métodos tradicionais, que se vê, inicialmente contra a sua vontade, aliado a Rousseau. O que começa como uma colaboração forçada, evolui para uma parceria improvável, onde a lógica de Louvetot se mistura com a criatividade de Rousseau, atingindo resultados inesperados. A relação entre os dois desenvolve-se de forma gradual, com tensão e humor, e revela-se um dos elementos centrais que mantém a narrativa imprevisível e cativante em «Polar Park», que tem estreia no AMC.

«Polar Park» constrói um mistério intrincado, onde cada personagem, com as suas respetivas motivações, mais ou menos complexa, carrega obsessões e segredos. A série vai além do clássico enredo policial, explorando questões profundas e filosóficas, que tornam a história ainda mais plural. Desta forma, a narrativa não se limita a investigar os crimes que assombram Mouthe, mas mergulha também nas questões existenciais que integram a história. Por vezes, as personagens não conseguem distinguir o passado e o presente; o que é real ou uma invenção das suas mentes; proporcionando um mistério ainda mais desafiador.

Por fim, a definição da identidade é um dos temas centrais de «Polar Park», atravessando toda a trama de maneira subtil, mas intensa. Cada personagem, seja protagonista ou não, está num processo constante de descoberta, seja de forma consciente, numa procura ativa por respostas, ou de maneira inconsciente, com as suas ações e escolhas, que revelam aspetos ocultos da sua personalidade. Este caminho de autodescoberta não é linear, e é frequentemente marcado por ambiguidades e contradições, o que origina uma narrativa ainda mais complexa.

 

Texto originalmente publicado aqui

 

Sara Quelhas

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