Operação Maré Negra: caso real vira drama intenso

O Amazon Prime Video estreia hoje a série «Operação Maré Negra», uma produção luso-espanhola que conta com profissionais dos dois países à frente e atrás das câmaras. Nuno Lopes e Lúcia Moniz são os dois atores portugueses em maior destaque.

«Operação Maré Negra» remonta aos acontecimentos de 2019, quando um submergível artesanal levou a cabo a exigente missão de atravessar o Atlântico com uma carga de cocaína. Três homens combatem as forças da Natureza e a aproximação cada vez maior das autoridades, portuguesas e espanholas, que tentam combater o tráfico com ligação aos dois países. Por detrás do ambicioso crime, a caraterização de uma sociedade naturalmente pobre tentada pelo dinheiro fácil, com destaque para Nando (Álex González), um pescador e boxista amador, que se vê enredado de uma rede de drogas e perigos, manietado e manipulado para servir interesses alheios.

A série destaca-se desde logo pela sua qualidade: bem realizada (por Daniel Calparsoro e João Maia), bem interpretada e com um ritmo equilibrado. Os diferentes espaços e temporalidades mostram-se e escondem-se faseadamente, entregando ao espectador os detalhes mais importantes de todos os núcleos narrativos, fazendo da audiência cúmplice e testemunha ao mesmo tempo. O perfil social assume igualmente um papel muito importante, que serve de justificativo às ações de personagens como Nando e Sergio (Nuno Lopes), que recorrem ao crime para combater uma injustiça que vivem desde o berço. Sem tirar a responsabilidade de quem a tem na realidade, «Operação Maré Negra» usa a ficção para criar um drama complexo e mostrar que nem os casos mais óbvios são objetivos e lineares.

A aumentar de intensidade de episódio para episódio, a aposta luso-espanhola vai criando uma teia inescapável para os intervenientes principais, cuja salvação aparentemente fácil apenas tornou a sua vida mais difícil. Com diálogos objetivos e muito direcionados para a ação, o argumento é o instrumento que facilita a chegada a outro lado, empurrando a narrativa para a frente. Além de Portugal e Espanha, a trama chega também ao Brasil, onde o ator Bruno Gagliasso assume um papel de relevo numa guerrilha de múltiplas nacionalidades.

As produções nacionais continuam a dar cartas no “falso” documentário, provando mais uma vez a competência, neste caso a par de Espanha, para a criação de narrativas de base real com muita credibilidade e, sobretudo, qualidade. No elenco destacam-se ainda Luís Esparteiro, Nerea Barros, Miquel Insua, Xosé Barato, Carles Francino, Manuel Manquiña, Luis Zahera, David Trejos e Leandro Firmino.

 

Texto originalmente publicado aqui

 

Sara Quelhas

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