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Obituary: quando a morte está escrita…

O canal AMC Portugal estreou na passada terça-feira, 26, a série «Obituary». Quando a subsistência de Elvira Clancy depende de quantos obituários escreve, e as mortes são escassas, a protagonista desta história decide passar das palavras à ação…

Elvira Clancy (Siobhán Cullen) teve uma infância peculiar. Criada pelo pai, Ward (Michael Smiley), sempre contactou com a tragédia e, em momentos sangrentos, encontrou muitas vezes a tranquilidade que lhe faltava. No flashback inicial, em que conhecemos a personagem principal, é dado a conhecer à audiência, na perspetiva de Elvira, como a morte lhe deu conforto e como a primeira vez que assassinou um animal experienciou um dos momentos mais felizes da sua vida. Já na escrita, a criatividade sempre viveu, lado a lado, com o macabro.

Chegamos ao presente com o mote para a desgraça. Ward está doente e é alcoólico, além de viciado em jogo, estourando todo o dinheiro sem qualquer cuidado. Por sua vez, Elvira sofre para conseguir pagar as contas e garantir a sobrevivência dos dois, quando o jornal onde trabalha a escrever obituários começa a fazer cortes. Em vez de ter um salário certo, o pagamento passa a ser à “peça”, o que, numa localidade onde não há muitas mortes, vira pesadelo. No entanto, Elvira não tarda a ter uma ideia: e se “apressar” alguns falecimentos? E se provocar a morte de alguém que já iria morrer de qualquer forma?

O que, teoricamente, se apresenta como menos moralmente questionável não dura muito, já que os critérios da protagonista se tornam cada vez mais amplos. «Obituary» é uma tragicomédia, com humor negro, disruptiva, que desafia a moral e bons costumes de uma sociedade supostamente estável, ainda que, aos poucos, nos sejam dados a conhecer casos menos claros e mistérios por resolver. Também Emerson Stafford (Ronan Raftery) é uma personagem nada linear, algo duvidosa, que acarreta outra linha de interesse para uma narrativa já de si peculiar.

O argumento de «Obituary», com emissão no AMC, é complexo e com uma comédia negra apurada, muito centrada em Elvira e na sua falta de empatia para com quem a rodeia. Uma protagonista interessante, fora do padrão, ainda que nos lembre, levemente, outros serial killers televisivos. Só que os motivos de Elvira são, inicialmente, tão supérfluos, que a sua história de origem se torna particularmente bizarra.

Esta é uma criação do irlandês Ray Lawlor, contanto ainda no elenco com Danielle Galligan, David Ganly, Michael Hough, Noni Stapleton e Conan Sweeny, entre outros.

 

Texto originalmente publicado aqui

 

Sara Quelhas

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