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Natalie Wood: What Remains Behind: por trás do mito

A HBO Portugal disponibiliza, amanhã, 6, «Natalie Wood: What Remains Behind», uma obra intimista que revisita um dos ícones do cinema hollywoodiano das décadas de 50 e 60. Fiquem com a minha opinião sobre o documentário.

No grupo de child actors mais bem-sucedidos, não poderá faltar o nome de Natalie Wood (nascida Natalia Nikolaevna Zakharenko). A atriz, de ascendência russa, começou a sua carreira com apenas 5 anos, mantendo-se no ativo – com interrupções pontuais – até aos 43 anos, data da sua morte. No entanto, Natalie é atualmente mais lembrada, pelo menos no que aos Estados Unidos diz respeito, pelo aparente mistério em torno da sua morte trágica, no fim de semana de Ação de Graças em 1981. Quando se encontrava num cruzeiro com o marido Robert Wagner e Christopher Walken – com quem alguns apontavam um caso, por confirmar até hoje –, a atriz terá caído à água e foi encontrada já sem vida.

Embora nos anos 80 o caso não tenha levantado grandes dúvidas, há cerca de oito anos foi reaberto e tem sido alimentado sobretudo graças a artigos e programas de TV sensacionalistas. Em 2012, as causas da morte sofreram uma ligeira alteração: “provável afogamento e outros fatores por determinar”. A adição desta segunda parte tem sido o suficiente para fazer correr tinta e apontar as atenções para Robert Wagner – tido como pessoa de interesse 30 anos depois –, uma das vozes mais participativas deste documentário, ao mesmo tempo que a irmã de Natalie vai apoiando a defesa da tese de homicídio.

Dado o contexto, um twist: este não é um documentário sobre a morte de Natalie, ou uma nova análise dos contornos da aparente queda. É certo que o seu falecimento precoce é uma constante na conversa, mas surge somente em segundo plano.

«Natalie Wood: What Remains Behind» é liderado por Natasha Gregson Wagner, a filha mais velha da atriz, que evoca o passado da mãe para dar a conhecer o seu lado mais humano, por detrás do fenómeno manufaturado pela indústria de Hollywood. O controlo feroz de Natalie é percebido sobretudo num artigo escrito pela própria, em 1966, que acabaria por não ser publicado, sendo, agora, um dos principais fios condutores da narrativa que procura humanizar a atriz.

Entre várias relações amorosas, com destaque para o casamento com Wagner, o documentário vai revelando uma pessoa em sofrimento e empurrada para a escuridão e depressão. Mas também a forte pressão da mãe da atriz que, perante a debilidade da saúde do marido, forçou a carreira de estrela da filha. Um produto do sistema dos estúdios de Hollywood, Natalie insistiu na presença em «Rebel Without a Cause – Fúria de Viver» (1995), que lhe valeu a primeira nomeação aos Óscares – teria três até aos 25 anos, sem vencer – e marcou a separação entre o fim da criança frágil e o surgimento da mulher.

De um «West Side Story – Amor sem Barreiras» (1961) menos feliz do que seria de esperar à entrada na carreira nos 40 – bem como ao difícil equilíbrio com a vida de mãe –, são muitos os dilemas e conflitos (internos e externos) que tornam o ícone mais verosímil para a audiência. Um retrato intimista, com participação de astros como Robert Redford, Mia Farrow e Elliott Gould, mas também da família mais próxima, como a filha Courtney Wagner e os filhos do marido Robert Wagner ou o ex-marido Richard Gregson, entretanto falecido. «Natalie Wood: What Remains Behind» torna-se interessante, sobretudo, pela perspetiva que dá de um lado menos glamoroso do Cinema, numa época dourada que desperta tanta nostalgia.

Texto originalmente publicado na Metropolis

 

Sara Quelhas

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