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Modern Love: de repente, o amor (moderno) acontece

Tive acesso antecipado à segunda temporada de «Modern Love», que tem estreia marcada na Amazon Prime Video dia 13. Descobre o que podes esperar da nova incursão narrativa desta antologia sobre as relações na cidade grande.

Mal se começa a ouvir Setting Sail, o genérico de «Modern Love», que tem letra do criador John Carney e é interpretado por Gary Clark, é como regressar a um lugar familiar depois de muito tempo. Vi o primeiro episódio da série durante uma viagem de avião, algo que, depois de um período alargado de pandemia e restrições, parece já ter sido noutra vida. A minha companhia de viagem chorava baba e ranho durante o episódio “When the Doorman Is Your Main Man”, enquanto eu, além de fingir não a conhecer, pensava como era curioso o efeito que certas histórias têm em nós. Afinal, uma série cujo principal fio condutor é o amor, é necessariamente universal.

A certa altura, na sua conversa com a METROPOLIS e outros media, John Carney resumiu o que significa, para ele, «Modern Love» [amor moderno, na tradução literal]. Justificar o conceito por detrás da sua própria criação é uma tarefa mais difícil do que possamos pensar – uma das principais críticas à primeira season prendia-se com o facto de série ser, no entender de alguns, pouco moderna. Carney descomplica rapidamente o celeuma: a aposta da Amazon Prime Video é sobre os moldes em que o amor acontece nas cidades modernas, onde, em populações vastas e de rotinas estabelecidas, as relações começam por meros acasos. Não há o encanto, por assim dizer, de crescer em meios pequenos e selecionar a pessoal ideal para nós: é sobre a multiplicidade de maneiras como o amor navega novos caminhos numa sociedade digital, modernizada e até em pandemia.

«Modern Love» tem como base artigos publicados numa coluna com o mesmo nome no jornal The New York Times. Estes são adaptados e reimaginados no pequeno ecrã, em episódios curtos e com histórias isoladas, que contam histórias de amor para sempre, amor por um momento, ou do impacto da perda.

A verdade é que a série impressionou logo na primeira temporada pelo elenco, com nomes como Anne Hathaway, Dev Patel, Andy Garcia, Tina Fey ou Catherine Keener, e volta a conseguir o mesmo no regresso. Entre os atores evidenciam-se Minnie Driver, Sophie Okonedo, Kit Harington, Anna Paquin, Tobias Menzies e Garrett Hedlund, entre outros. Atores com uma tradição considerável em televisão, no teatro, ou carreiras bem firmadas na longa-metragem, que surgem com um desafio diferente: construir uma personagem e convencer a audiência em apenas 30 minutos.

Há um certo equilíbrio nas histórias escolhidas para a T2, desde logo com relações que vão desde o início da pandemia a outros tempos agora mais distantes. A pluralidade é evidente: além do casting versátil e das diferentes faixas etárias e fases de vida, destaca-se a diversidade nas relações e a panóplia de narrativas; há um episódio sobre o que acontece depois de morrer o amor da nossa vida, o amor em tempos de doença e até romances de famosos (Andrew Rannells, com também conversei pela Metropolis, escreve e realiza “How Do You Remember Me?”, um episódio baseado numa crónica dele para o NYT).

Apresentações feitas no que à fórmula diz respeito, resta saber se funciona. A resposta é direta, mas nem por isso menos complexa: sim no seu conjunto, mas nem sempre na análise individual. Isto é, as tramas são tão independentes entre si que acabam por ganhar vida própria, pelo que é inevitável gostar mais de umas do que outras, ou estabelecer maior empatia com algumas personagens ao invés de outras. Um pouco como acontece quando comparamos séries, uma vez que os episódios não têm ligação entre si e o mote ou abordagem não é, necessariamente, idêntico.

Embora o espaço curto de tempo em que a ação se desenvolve seja um aparente handicap, a verdade é que essa conversa se desvanece devido, como já foi mencionado, à qualidade da generalidade do elenco. Até mesmo o elenco mais jovem, com nomes como Lulu Wilson (Ouija: Origem do Mal, Annabelle 2, Sharp Objects) e Lucy Boynton (Bohemian Rhapsody, The Politician).

Assim como acontece em short stories, «Modern Love» é uma série cuja ação se esfuma rapidamente – por ser composta por episódios isolados e breves –, mas cujo impacto pode perdurar se “falar” com a audiência. É uma narrativa sobre como a sorte e o acaso podem revolucionar vidas e, particularmente, relações. É uma daquelas séries que aquecem o coração, ou o deixam apertadinho quando, apesar da tal sorte, há momentos ou finais que estão longe de ser contos de fadas. Porque são reais: o “poder” não está em quem cria, mas sim na simplicidade de quem o viveu…

 

Texto originalmente publicado aqui

 

Sara Quelhas

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