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As 10 melhores séries desde 2010: a lista possível, por Pedro Quedas

Quando a Sara me convidou para escrever um artigo sobre as 10 melhores séries da década, aceitei de imediato, sabendo que tinha imensas obras de excelência às quais podia (e devia) dedicar um pouco da minha atenção. Num canto escuro da minha neurótica alma, no entanto, tinha uma voz a lembrar-me do quanto eu tinha descurado a minha «missão» como adepto do grande ecrã. Quando comecei a pesquisar mais a fundo o trabalho que tinha sido feito na televisão esta década, apercebi-me do quão vergonhosas eram as minhas falhas.

Assim, para que não vos falte nada, segue uma extensa (mas breve) lista das séries desta última década que ou vi pouco ou não vi nada e, como tal, terão de ficar de fora desta minha lista: «Atlanta»; «BoJack Horseman»; «Crazy Ex-Girlfriend»; «Dark»; «Fargo»; «Fleabag»; «Marvelous Mrs Maisel»; «Orphan Black»; «Rick And Morty»; «Silicon Valley»; «The Americans»; «The Crown»; «The Handmaid’s Tale»; «The Leftovers»; «The Night Of»; «This Is Us»; e «Veep». Sim, eu sei. É uma vergonha. Passível de justificar ter uma certa freira maldisposta a tocar um sino atrás de mim. Mas adiante. Assim ficam já a saber de antemão a razão para a minha lista estar tão absurdamente diferente da vossa.

Por fim, queria mencionar também que outra razão para o meu consumo de séries não estar tão fervoroso como em tempos foi o facto de, apesar dos meus já calcificados 37 anos, dar por mim cada vez mais a consumir podcasts e, mais relevante para esta discussão, vídeos no YouTube. Indo além de produtos mais exclusivamente “internetescos” como celebridades a dar entrevistas enquanto comem asas de frango picantes ou pessoas a reagir a música que normalmente não ouvem, menciono isto aqui porque há um produto televisivo que tenho consumido desenfreadamente no YouTube: programas de sátira política. John Oliver reside no topo da montanha, acompanhado por nomes como Seth Meyers, Stephen Colbert ou Trevor Noah. Presenças diárias na minha vida, que me ajudam a digerir a atualidade política num mundo que parece determinado a implodir.

Terminado este preâmbulo tão interminável que quase justificava o seu próprio artigo, seguem as minhas escolhas para as 10 melhores séries desta década que passou:

10 – Westworld

Isto é o que acontece quando juntamos um belíssimo conceito, escritores talentosos e um compromisso absoluto em criar um produto da maior qualidade possível. Mais do que qualquer outra coisa, «Westworld» é um exercício em elegância – não apenas cénica mas também narrativa. E é exatamente nessa sedução que reside o meu fascínio pela criação de Jonathan Nolan e Lisa Joy. Porque é por ficar encantado pela elegância superficial dos cenários futuristas que sou tão facilmente atropelado pela podridão que se esconde por baixo.

9 – Big Mouth

Esta série de Nick Kroll, Andrew Goldberg, Mark Levin e Jennifer Flackett gerou, ao início, alguma polémica. Relativamente compreensível, dado que se trata de uma série de animação protagonizada por crianças de 12 anos a lidarem – de forma muito gráfica – com todas as complicações físicas e emocionais da puberdade. Mas, por trás das imagens de genitália pre-adolescente e ruminações sobre ejaculação, esconde-se uma série a transbordar de coração e que, apesar de ser para adultos, pode perfeitamente ser vista pelas crianças que retrata.

8 – The Newsroom

Aaron Sorkin é o meu argumentista favorito de sempre. O modo como Sorkin escreve diálogos é um exemplo de como é possível (ainda que difícil) colocar pessoas a falar como gente normal ao mesmo tempo que debitam frases dignas da mais refinada poesia. Em «The Newsroom», Sorkin “ataca” o mundo do jornalismo com a sua característica exuberância ideológica, com personagens que lutam diariamente por cumprir o nobre desígnio de dizer a verdade. Nos tempos que correm, custa-me encontrar algum propósito mais digno.

7 – Brooklyn Nine-Nine

«Brooklyn Nine-Nine» faz-me rir. Muito. Sempre que a vejo. Até na 5ª ou 6ª viagem pelos mesmos episódios. Andy Samberg consegue a proeza de criar um protagonista incrivelmente infantil e, ao mesmo tempo, inegavelmente charmoso. Todo o elenco desta sitcom é absolutamente irrepreensível – capaz de criar situações ridículas e, ao mesmo tempo, fazer-nos sentir enorme pela empatia pelas suas vidas. «Brooklyn Nine-Nine» não terá os objetivos intelectuais e artísticos de outras séries na minha lista. Mas caramba se não me faz rir.

6 – Sherlock

Sherlock Holmes foi, provavelmente, a personagem fictícia que mais me influenciou e moldou ao longo da juventude. Como tal, fico sempre entusiasmado (e levemente receoso) quando sei que vai haver uma nova versão do meu herói favorito. A partir de agora, não consigo imaginá-lo de outra forma senão na voz maravilhosamente arrogante de Benedict Cumberbatch. «Sherlock» trouxe-nos diálogos deliciosos, mistérios imprevisíveis, um grande Watson, e, claro, pelas mãos de Andrew Scott, pura e simplesmente o melhor Moriarty de sempre.

5 – Parks and Recreation

Esta é a única (leve) batota da minha lista. Tecnicamente, «Parks and Recreation» começou em 2009. Mas é sabido que a sua primeira temporada (de apenas 6 episódios), não representa bem a genialidade do produto final. Depois de, na segunda temporada, terem transformado Leslie Knope de falhada a simplesmente trapalhona, a sitcom voou para o panteão da comédia norte-americana. Esta é a série que nos trouxe o incomparável Ron Swanson, lançou Chris Pratt para o estrelato, e mostrou como não é preciso cinismo para se ser hilariante.

4 – Stranger Things

Hoje em dia, esta homenagem sentida à nostalgia da cultura dos anos 80 tornou-se um fenómeno global. Mas começou por ser uma aposta obscura da Netflix, que arriscou na visão dos Irmãos Duffer e encontrou uma mina de ouro. Com cada nova temporada, a série tem cada vez maior orçamento e menos limites nas suas ambições, mas, na verdade, não mudou assim tanto. Continua a ser um estudo delicado de personagens impossivelmente bem construídas, com destaque para o desempenho estelar de Millie Bobby Brown como “Eleven”.

3 – The Good Place

Uma sitcom sobre filosofia, que reflete sobre a natureza da humanidade e como definir o caminho certo para a nossa moralidade? Só pode ser hilariante, não é? Bem… na verdade, sim. Explicar o que se passa em «The Good Place» é automaticamente estragar a experiência, por isso vou limitar-me a dizer que o feito que Michael Schur conseguiu nesta série é o mais impressionante em toda a minha lista. Kristen Bell, Ted Danson e um elenco irrepetível de tão perfeito conseguem tornar o ensino da ética mais entusiasmante que qualquer filme de ação.

2 – Game of Thrones

Se esta fosse uma lista sobre as séries mais importantes da última década, «Game Of Thrones» teria o primeiro lugar destacado. Nas minhas escolhas pessoais, fica em 2º lugar. Esta é uma série sobre reis, rainhas e dragões, que conseguiu cativar a imaginação de todo o mundo – incluindo quem nunca se tinha aventurado no mundo da fantasia. Épica e chocante, recheada de personagens memoráveis e momentos inesquecíveis, «Game of Thrones» foi um fenómeno sem comparação. Ah, e a última temporada foi óptima, seus resmungões insuportáveis.

1 – Black Mirror

Nenhuma série, nesta última década, me afetou emocionalmente da mesma forma que «Black Mirror». Nenhuma me fez chorar, rir, refletir, sonhar da mesma forma. Nos mundos distópicos que cria, Charlie Brooker usa visões do futuro tecnológico para iluminar os cantos mais obscuros da humanidade. Normalmente mais pessimista, «Black Mirror» tem um episódio que se tornou famoso pela sua inesperada positividade. A alegria que senti pelas personagens quando tiveram o seu final feliz rivalizou muitos dos melhores momentos da minha própria vida. Quando uma série consegue fazer isso, como pode não ser a minha favorita?

Pedro Quedas

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Pedro Quedas

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