Irma Vep: quando a vida imita a arte 2.0

Longe vai o tempo em que ser ator ou atriz era, automaticamente, sinónimo de glamour. Na nova aposta da HBO Max, Mira é uma estrela do cinema, à deriva na sua vida pessoal e profissional, que cria uma ligação íntima com a sua próxima personagem: Irma Vep.

Mais de 20 anos depois do seu filme «Irma Vep» (1996), Olivier Assayas assume a cadeira de argumentista e realizador, reinventando a história de uma atriz popular fora do seu habitat natural, quando participa no remake de «Os Vampiros». Desta feita, é Alicia Vikander a protagonizar a trama, que aborda a criação caótica do realizador René Vidal (Vincent Macaigne), um homem tão perdido na sua obra quanto na própria vida. No meio da confusão em que se transforma a gravação do remake, Mira (Vikander) acaba por assumir a sua Irma Vep quase como uma persona comum a si, o que tem uma influência direta no seu quotidiano e decisões.

O seu propósito inicial é simples: Mira não precisa de um sucesso de bilheteira, mas sim de um bom filme que a valide como atriz. Essa é parte da motivação de Mira para gravar em Paris, ainda que o seu foco seja alterado com a presença inesperada da ex-namorada Laurie (Adria Arjona), que se encontra agora numa nova relação. Num confronto inicial, Laurie destabiliza Mira, que fica numa posição vulnerável perante um projeto que começa a afetá-la mais do que seria de esperar.

«Irma Vep» é uma série introspetiva sobre a figura da atriz, no caso Mira, quando a sua criação comunica com ela a um nível profundo e arrebatador. Isso posiciona a personagem principal numa posição de desconforto, mas também a audiência, que tem alguma dificuldade em perceber o momento exato onde a arte se separa da realidade de Mira. Uma abordagem interessante, bem trabalhada a diversos níveis, nomeadamente realização, e com um elenco competente que fortalece um argumento já de si promissor.

O primeiro episódio fica disponível hoje, 7, no streaming HBO Max. A minissérie tem um total de oito episódios. O elenco conta ainda com Byron Bowers, Tom Sturridge, Fala Chen, Vincent Lacoste, Jeanne Balibar e Alex Descas, entre outros.

 

Texto originalmente publicado aqui

 

Sara Quelhas

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