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Industry: não há mérito que vença o status quo

A HBO estreia esta terça-feira, 11, «Industry», que retrata a entrada de um conjunto de graduados no mundo competitivo dos bancos de investimento. Tive acesso antecipado aos primeiros episódios da série e diz-lhe o que pode esperar.

Harper (Myha’la Herrold) é um dos novos talentos de um banco de investimento em Londres. «Industry» ilustra a nova dinâmica do espaço, que se repete ciclicamente, com a entrada em massa de graduados cheios de esperança, sendo que a maioria vai acabar por ver o sonho morrer. A série é composta por um total de oito episódios, com Lena Dunham, de «Girls», a realizar o primeiro. Já a criação é dos estreantes nestas andanças Mickey Down e Konrad Kay.

A jovialidade e ilusão que trazem os novos talentos, a par de algum medo e ingenuidade, contrasta com a rigidez já instalada e a exigência dos clientes. Para ficarem, têm de se tornar indispensáveis — essa mensagem é clara desde início. E alguns, como Hari (Nabhaan Rizwan) sentem demasiado a pressão. O recém-graduado faz horas extra, aplica-se em tarefas que nem são dele e fica excessivamente nervoso quando se engana no tipo de letra de um relatório.

Já Harper, que assume o protagonismo da trama, é um mistério para o espectador. Há algo que não sabemos em relação ao seu passado, nomeadamente quando tem de falsificar o comprovativo de conclusão do curso; e até para arranjar um novo quarto parece ter azar. Os seus infortúnios são distintos, por exemplo, de Yasmin (Marisa Abela) que, apesar de enfrentar o mesmo nível de exigência, tem uma estabilidade familiar aparentemente mais confortável. No entanto, para agradar aos superiores, acaba como a “menina dos almoços” e o mito depressa se desfaz quando conhecemos o ambiente em que se move.

O abuso de poder é revelado de várias maneiras — umas mais problemáticas do que outras, é certo. Contudo, este é uma constante em vários níveis profissionais e até pessoais dos intervenientes-chave. Ao mesmo tempo, a série funciona como uma abordagem coming of age, recheada de drogas e outros vícios, assim como a sexualidade à flor da pele. Tudo está tão interligado que os limites entre a vida profissional e pessoal parecem confundir-se. O mesmo acontece com a estrutura das personagens que nos vão sendo apresentadas.

«Industry» é uma série assertiva, direta e crua, com nudez e cenas explícitas, que, de igual forma, tenta analisar de forma ousada o mercado de trabalho para onde os jovens são lançados, sem preparação. Mas está longe de ser um conjunto de vítimas, até porque não é clara a real essência das personagens. Nem mesmo quando se trata do núcleo central. Esse mistério, explorado pelo ritmo da narrativa, funciona como um atrativo extra para quem pretende acompanhar a série.

Iludidos pela possibilidade de vingar pelo mérito, depressa percebem que nada funciona assim. Quem tem o poder agarra-o com toda a força e, a custo, vai largando oportunidades — e cada uma que surge pode ser a última. A hierarquia é mais forte do que o eventual potencial dos recém-contratados, que vão caminhando pelo mundo dúbio dos bancos, ao mesmo tempo que também navegam por novas experiências e paixões.

Além dos nomes já referidos, a série conta ainda com Conor MacNeill, Priyanga Burford (Avenue 5), David Jonsson (Deep State), Harry Lawtey e Ken Leung (Lost, The Night Shift), entre outros.

 

Texto originalmente publicado aqui

 

 

Sara Quelhas

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