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Here and Now: Sete Palmos de Terra encontra True Blood (e é tão bom!)

A nova série do criador Alan Ball estreou esta madrugada na HBO — e no canal TVSéries em simultâneo. A METROPOLIS já assistiu aos primeiros episódios de «Here and Now» e prepara-o para o que aí vem.

Uma das maiores desilusões dos espectadores de «True Blood», no ar entre 2008 e 2014, era “matar” a ausência da série com os livros de Charlaine Harris, a base da história, e perceber a diferença brutal de qualidade entre ambos. Faltava-lhe a “toque de Midas” de Alan Ball, o responsável pela adaptação televisiva, de regresso então à cadeira de criador após a icónica «Sete Palmos de Terra». O talento de Ball para desenvolver personagens, como atestado pelo seu Óscar por «Beleza Americana» (1999), desarma qualquer um: até nas narrativas mais surreais, como era a de «True Blood», sobressai o cuidado rigoroso com os seres que habitam a ficção.

«Here and Now», que põe fim a uma ausência de quatro anos como criador, não é exceção. A série, que estreou esta madrugada no TVSéries, reúne Holly Hunter, Tim Robbins e um elenco de atores jovens e bastante promissores. A narrativa forma-se em torno de uma família multirracial, composta pelo casal Audrey (Hunter) e Greg (Robbins), a filha biológica e adolescente Kristen (Sosie Bacon) e o trio de filhos adotados: Ashley (Jerrika Hinton, a Dra. Stephanie de «Anatomia de Grey»), da Somália, Duc (Raymond Lee), do Vietname, e Ramon (Daniel Zovatto), da Colômbia. Como se a pluralidade de culturas — e consequente encontro e desafio de estereótipos — não fosse suficiente, é adicionado ainda um novo drama relacionado com Ramon, que fica obcecado com os números “11:11” e, por isso, deixa a família em estado de alerta.

Ainda que seja uma comparação superficial, há muito em «Here and Now» que resulta da combinação das últimas duas séries criadas por Ball, «True Blood» e «Sete Palmos de Terra». Como se finalmente tivesse tido acesso a uma qualquer revelação mística, Ball combina o rigor da segunda com a vertente sobrenatural da primeira, sem, ainda assim, depender excessivamente de nenhuma delas. Mas, afinal, o que quer isto dizer? Que «Here and Now» está dentro da qualidade de escrita e desenvolvimento a que Ball nos tem vindo a habituar e, ao mesmo tempo, oferece-nos algo de novo. Com uma família tão alargada como é a de Audrey e Greg, é impressionante testemunhar a atenção profunda e equilibrada que Ball dá a todos eles. E ainda a personagens secundárias.

Para os mais céticos, que não gostam particularmente da componente mística de «Here and Now», há um drama familiar e social muito intenso, que extravasa os limites dos protagonistas. Para os adeptos de séries dentro do estilo de «True Blood», há um mistério transversal a todos os episódios, em crescimento recorrente, que vai atiçando a curiosidade em relação ao que está na origem de tudo. Como bem sabemos, agradar a Gregos e Troianos não é nada fácil, mas Alan Ball anda lá perto e, embora não fosse obrigado a esse esforço, quer agradar aos diferentes tipos de fãs que cativou ao longo de quase 20 anos.

Texto originalmente publicado na Metropolis.

 

Sara Quelhas

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