Favàritx: entre o farol e o crime organizado

«Favàritx» é uma minissérie de suspense, uma parceria entre a RTP1 e a HBO Max que alia o ritmo de um thriller criminal à beleza de Menorca. Com apenas cinco episódios, aposta numa narrativa contida, mas intensa.

Em «Favàritx», a narrativa começa com a chegada da inspetora Marta Serra (Paz García) a Menorca, após um período conturbado na sua vida pessoal e profissional. O que parecia ser uma mudança para um local mais calmo e previsível revela-se, afinal, o contrário, já que Menorca guarda segredos profundos. A morte inesperada de uma vereadora, inicialmente considerada suicídio, é apenas o primeiro indício de uma rede muito mais complexa. À medida que outros casos semelhantes emergem, Marta suspeita que não são incidentes isolados, mas parte de um padrão cuidadosamente planeado.

Com o apoio do seu colega Álex Crespo (Abdelatif Hwidar), Marta envolve-se numa investigação que toca interesses, de redes de corrupção a uma estrutura criminosa com ligações a Portugal. À medida que o cerco aperta, o enredo vai desmontando as camadas de aparente tranquilidade da ilha, e o farol de Favàritx surge como símbolo e metáfora: guia em noite escura, mas também sentinela de silêncios antigos.

A ligação a Portugal não é um mero artifício exótico, mas um elemento estrutural, coerente com o desenvolvimento da intriga criminal e os temas centrais da série, especialmente as redes de poder e corrupção transfronteiriças. Destaca-se Simão (Pêpê Rapazote), uma das figuras mais enigmáticas e ameaçadoras. Estratega sombrio de uma rede que se estende até Espanha, atua com frieza calculada, silêncio absoluto e uma capacidade desconcertante para antecipar os movimentos dos seus adversários. É também implacável.

A trama inclui ainda a inspetora portuguesa Diana Silva (Carolina Carvalho), Maria Inês (Benedita Pereira), Toni (João Baptista) e Iván (Àlvar Triay), entre outros. Estas personagens são elementos-chave que expõem as múltiplas faces do crime organizado e a sua infiltração nas vidas quotidianas, políticas e económicas. Através delas, «Favàritx» constrói uma narrativa densa em tensões, dilemas e contrastes, onde Portugal e Espanha se cruzam e confrontam num jogo de poder e sobrevivência.

A presença proeminente de personagens portuguesas e espanholas enriquece a narrativa, evidenciando que o crime organizado é uma realidade que ultrapassa fronteiras e exige respostas conjuntas e coordenadas. Mais do que meras personagens secundárias, representam perspetivas diversificadas, desde o rigor policial e a busca pela justiça até às tensões pessoais e morais enfrentadas por quem se envolve, direta ou indiretamente, nestas redes. Esta abordagem humaniza o conflito e destaca a complexidade das situações.

No seu conjunto, a série convida a uma reflexão profunda sobre as múltiplas faces da justiça num mundo cada vez mais interligado e complexo, onde a colaboração transnacional é fundamental para enfrentar desafios globais.

 

Texto originalmente publicado na Metropolis

 

Sara Quelhas

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