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Dickinson: o regresso poético de Emily

O Apple TV+ disponibiliza amanhã, 8, os primeiros três episódios da segunda temporada de «Dickinson», uma das séries-sensação deste streaming. Fica a saber o que esperar do regresso de Emily Dickinson.

A primeira temporada de «Dickinson», protagonizada por Hailee Steinfeld, marcou a diferença por ser uma série colorida, divertida e inesperada. Os poemas de Emily Dickinson ganhavam forma, na tela, perante a liberdade da ficção, fazendo um pouco mais de justiça à autora, consagrada já depois da sua morte.

No seu regresso, «Dickinson» revela-se uma série mais sombria e complexa, desvendado novas camadas das personagens e da sua própria história. Isto porque, mesmo não seguindo à risca os acontecimentos, a série “bebe” muito do que se sabe para, de forma sempre criativa, ilustrar isso no pequeno ecrã. No entanto, apesar de se saber o fim, «Dickinson» faz, sem dúvida, valer a viagem.

“A verdade estará, talvez, escondida nos poemas dela”, indaga a voz-off de Hailee na introdução do primeiro episódio. Deste modo, a série volta a recuperar alguns dos poemas da autora para os enquadrar na narrativa e, de certo modo, funcionar como a leitura moral e social da ação. Mas já se sabe, falámos em diferenças e elas começam logo em Sue (Ella Hunt), aparentemente menos humilde e mais fixada na vida de glamour dos mais ricos. As suas festas, já na casa que partilha com Austin (Adrian Enscoe), são uma constante. Quanto à atenção que dedica a Emily, é bem menor.

Também a realidade social está diferente e muda a alta velocidade. A imprensa ganha andamento e importância, sendo anunciada como o negócio do futuro, além das “participações especiais” de oftalmologistas e spas, com uma revolução real e anunciada à porta. O abolicionista John Brown, que procurava acabar com a escravatura é um dos nomes mencionados, bem como Edgar Allan Poe. Já Samuel Bowles (Finn Jones, «Iron Fist») é uma das grandes aquisições, ao interpretar o editor do jornal local, onde Sue ambiciona ver publicado um dos poemas de Emily.

A viagem de Emily na segunda temporada é turbulenta. Uma figura mistério começa a assombrá-la constantemente, sem que ela consiga perceber as suas reais intenções. Ao mesmo tempo, a possibilidade da fama causa-lhe muitas dúvidas, originando inclusivamente um dos episódios mais inesperados da nova season. Por sua vez, a mãe (Jane Krakowski) e a irmã Lavinia (Anna Baryshnikov) continuam a ser os principais motores de “descontração”, para que a história não se leve demasiado a sério. Já o pai (Toby Huss) promete ter a vida menos facilitada…

«Dickinson» não é uma série para toda a gente, mas, para quem for, será quase certamente uma relação segura e duradoura. O estilo dramático é inovador, ousado e ambicioso, contrariando a lógica estabelecida do argumento e do que esperamos de uma série de televisão. Um trabalho bem conseguido de Alena Smith que, pode dizer-se, teve uma boa escola: a criadora passou pela escrita de séries como «The Newsroom» ou «The Affair».

A série já foi renovada para uma terceira temporada.

 

Texto originalmente publicado aqui

 

 

 

Sara Quelhas

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