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Black Mirror: o melhor da TV mostra o pior de nós

A quarta temporada de «Black Mirror» chega à Netflix na sexta-feira, 29, bem a tempo de estragar as contas das melhores séries do ano. Com argumentos sólidos e pungentes, a série, que até já esteve condenada ao cancelamento no passado, regressa mais forte do que nunca. A METROPOLIS teve acesso à nova temporada em primeira mão e traz o kit de sobrevivência para mais uma aventura hipertecnológica.

“E a tecnologia?”. Esta pergunta ecoa, persistentemente, a cada nova incursão no universo de «Black Mirror», cujos episódios, independentes entre si, são unidos pela tecnologia, qual omnipresença invisível, e pela inevitabilidade de esta assumir novas formas (e perigos) no futuro. A tecnologia, sempre ela, mesmo quando o espectador não a alcança imediatamente à vista desarmada; mas será sempre ela a vilã desta história? Longe disso. Nada em «Black Mirror» escapa ao futuro — utópico mas perigosamente próximo —, que mascara com a sua espectacularidade o que de menos agradável há no ser humano.

Este futuro, distante mas próximo o suficiente para nos deixar assustados, volta em força com seis mini-filmes que têm como protagonista a tecnologia e, sobretudo, as suas potencialidades. Neste sem-fim de histórias assombradas pelo ser humano, e pelo que ele é capaz de fazer para sobreviver, há uma presença constante das dicotomias do certo e errado, ainda que nem sempre seja fácil, para o espectador, colocar uma ação numa ou noutra categoria. Assim como aconteceu com os episódios “The Entire History of You” ou “San Junipero”, por exemplo, a empatia não é uma relação literal e é particularmente difícil encaixar as decisões das diferentes personagens, de forma pacífica, na forma como percebemos a realidade.

Continua a existir uma preocupação do argumento, fortalecida ou desafiada pela realização, em tornar a narrativa exequível no tempo presente. Só assim esta relação conflituosa entre o espectador e os acontecimentos do pequeno ecrã é possível: embora haja uma perceção plena de que aquela tecnologia ainda está longe de ser global e banalizada, a verdade é que a conseguimos enquadrar na sociedade atual. Veja-se a mãe que instala uma vigilância constante na filha em “Arkangel”, ou a persistência em filmes com a temática da inteligência humana artificial, como é o caso de “Black Museum”. E até eventos menos prováveis, pelo menos a curto prazo, como “Metalhead” trazem consigo o fantasma da possibilidade, pois não deixam de ser uma ameaça do futuro.

«Black Mirror» não é apenas uma série, mas sim uma experiência. Perante a tecnologia fornecida às personagens deste imaginário tecnológico, o espectador acaba a indagar o que faria caso aquela tecnologia fosse atual. Embora se trate de ficção científica, a série da Netflix acaba a ser discutida quase como um documentário, na medida em que espelha as debilidades da instrumentalização do quotidiano, mas também o papel que o ser humano tem no decorrer da ação. Não estamos na presença de um elemento passivo, e a quarta temporada é sublime neste aspeto: coloca o homem e a mulher na sua zona de conforto para, desafiando esta aparente normalidade, deixar o espectador desconfortável.

Artigo completo na Metropolis.

 

 

 

Sara Quelhas

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