Absentia mantém a qualidade no regresso

Em breve vão poder encontrar a entrevista que fiz à Stana Katic aqui, mas enquanto esta não chega fiquem com a minha análise aos dois primeiros episódios da nova temporada. «Absentia», que tem estreia mundial terça-feira, 26, no AXN.

A primeira temporada foi um corrupio imparável de emoções e twists, que terminou com uma semi-revelação relativamente a Emily Byrne (Stana Katic) e àquilo que, como é sugerido, ela terá feito de forma menos consciente. Esperámos mais de um ano por respostas, mas a verdade é que, como já percebemos, em «Absentia» nada nos é dado assim tão facilmente.

Os primeiros minutos do episódio são de cortar a respiração. Tudo acontece tão rapidamente, e de forma inesperada, que o espectador é deixado imediatamente em alerta máximo. Foi assim, aliás, que os criadores Matthew Cirulnick e Gaia Violo foram mantendo a audiência viciada na primeira temporada, sempre em busca de um desfecho risonho (ou não) que tardava em chegar. Contudo, há mudanças e o sinal dado na abertura é claro: a história vai além da sua personagem principal, e não estamos perante outra temporada com uma grande storyline que ‘afunda’ todas as outras. Isso não descura, todavia, o crescimento que é necessário em Emily e no drama despoletado anteriormente. E esse equilíbrio é muito bem conseguido nos dois primeiros episódios.

Mas vamos à premissa. Emily está obcecada com o seu passado e com o que aconteceu na instituição onde viveu parte da infância, enquanto, ao mesmo tempo, tenta estabelecer uma relação minimamente normal com Flynn (Patrick McAuley), o filho. A incursão nestes dois objetivos não acaba, naturalmente, sem que estes se cruzem e Emily tenha de lidar com as consequências. Emily conta, na sua investigação em causa própria, com o apoio de Tommy (Angel Bonanni), que parece uma personagem diferente (e até evoluída) da que encontrámos na season 1. O primeiro episódio termina com uma revelação chocante que, embora expectável mais cedo ou mais tarde na narrativa, acaba por mudar o rumo esperado nos primeiros 20 minutos da nova temporada. Será que ainda não aprendemos que «Absentia» raramente vai para onde estamos à espera?

Não há comic refliefs aqui. A série tem uma inspiração marcadamente europeia, sobretudo nórdica, sendo continuamente pesada e insuportável para as personagens. Os azares sucedem-se, a realização tenta acompanhar a escuridão do argumento e, no meio de tudo isto, sobressai a qualidade da história e, particularmente, de Stana Katic e do ‘irmão’ Neil Jackson – que, no hiatus, até fez uma perninha em «Westworld». É uma experiência quase sufocante para quem assiste, como se a trama nos fosse prendendo no mesmo tanque de onde Emily tentou sair, com um emaranhamento constante de novas informações, que vão tornando a narrativa ainda mais complexa. O desafio dos produtores, onde Stana se inclui, é ser sempre capaz de dar o ‘nó’ final no meio de tantos laços que, a espaços, parecem não fazer sentido. Até agora, a missão tem sido bem-sucedida.

É indiscutível que muita gente foi parar a «Absentia», em 2017, porque a protagonista era Stana Katic, uma atriz praticamente desconhecida em 2009 que tinha ascendido ao estatuto de estrela global com a sua participação em oito temporadas de «Castle». Dúvidas houvesse em relação ao fenómeno Stana e a ‘loucura’ que se gerou em torno da atriz quando visitou o nosso país para a antestreia mundial, no início da semana passada, levaria a que caíssem por terra. Uma adolescente correu para o palco para roubar um abraço (e conseguiu), o ator português João Bonneville pediu a estrela em ‘casamento’ à frente da namorada e os fãs trocaram as perguntas sobre «Castle» e «Absentia» para transmitirem simplesmente a sua admiração pela atriz canadiana.

Stana Katic é hoje mais do que Katherine Beckett, de «Castle», e conseguiu esse feito – outrora aparentemente impossível – com apenas 10 episódios de «Absentia», uma série de menor escala que, mesmo assim, conquistou a Europa e, especialmente, a Península Ibérica. Assim como na primeira temporada, Portugal e Espanha voltam a estrear a série primeiro do que os Estados Unidos ou Reino Unido, com a estreia mundial a acontecer já esta terça, 26. Um acontecimento verdadeiramente histórico, mas que é também sintoma da peculiaridade da série que Stana protagoniza e também produz. Possivelmente consciente das fraquezas de «Absentia», nomeadamente ao nível do poder de marketing, a atriz contrariou a tendência que a tem marcado e viajou primeiro para Lisboa e depois para Madrid. Porque nem só de qualidade (sobre)vivem as séries. E, não restem dúvidas, «Absentia» tem muita qualidade.

Texto originalmente publicado na Metropolis.

Sara Quelhas

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