The Stand: somos tão frágeis quanto os sonhos

Uma das séries mais aguardadas de 2020 chega já amanhã, 17, à HBO. «The Stand» é a nova adaptação de um livro de Stephen King e traz um elenco de fazer inveja. Já vi os primeiros seis episódios e podem descansar: a montanha não pariu um rato.

Pictured (l-r): Owen Teague as Harold Lauder and Odessa Young as Frannie Goldsmith of the the CBS All Access series THE STAND. Photo Cr: Robert Falconer/CBS ©2020 CBS Interactive, Inc. All Rights Reserved.

O aviso é feito logo no arranque de «The Stand»: em breve, ele virá para destruir todos os que ficarem contra ele. A ameaça sobressalta-nos, mas dura pouco… voltará depois. Isto porque, antes de mais, é preciso contexto para alavancar a ação: a América encontra-se a definhar devido a um vírus que se revelou fatal para cerca de 99% da população. O tema, que inspirou Stephen King a escrever um livro em 1978, nunca foi tão presente como em tempos de Covid-19. Portanto, «The Stand» revela-se mais familiar do que seria de esperar… A partir de amanhã, 17, na HBO.

O espectador começa a viagem seriólica numa paisagem pós-apocalíptica, que choca pela dimensão das mortes. No entanto, é manuseado pela narrativa a seu bel-prazer, entre o passado e o presente, para ter o contexto geral do mundo de «The Stand». Um mundo onde Harold Lauder (Owen Teague), à imagem da sua vida, recebe um protagonismo que depois lhe é retirado. O jovem e a sua amada (não correspondida) Frannie Goldsmith (Odessa Young) são os únicos sobreviventes no local onde moram, após o Captain Trips — como é conhecido o vírus — dizimar a realidade tal como a conhecem.

Pictured (l-r): Jovan Adepo as Larry Underwood and James Marsden as Stu Redman of the the CBS All Access series THE STAND. Photo Cr: Robert Falconer/CBS ©2020 CBS Interactive, Inc. All Rights Reserved.

Além do mundo real, também os sonhos ganham uma importância inesperada, já que ligam as personagens aos “líderes” de fações opostas: o Bem e o Mal. Uma tentação adormecida e interior, que desafia os envolvidos a fazerem escolhas subconscientes.

Os primeiros quatro episódios são um pouco lentos, literários, mas necessários. Estabelecem o universo da narrativa que vamos habitar, estabelecem as regras, as personagens e as suas personalidades. Qual o seu passado, quais as suas motivações e como escolheram lado que apoiam. A estrutura é desenvolvida com critério, detalhe e, antes da ação avançar para o seu destino, estamos na posse de todas as informações de que precisamos. Um desafio exigente que nem sempre é concretizado com o mesmo brio.

Pictured: Nat Wolff as Lloyd Henreid of the the CBS All Access series THE STAND. Photo Cr: Robert Falconer/CBS ©2020 CBS Interactive, Inc. All Rights Reserved.

Os sobreviventes neste mundo em queda vão chegando aos poucos. Além dos já mencionados, há a “cobaia” Stu Redman (James Marsden), o egoísta Larry Underwood (Jovan Adepo), a misteriosa Nadine Cross (Amber Heard) e o criminoso Lloyd Henreid (Nat Wolff), entre outros. Já os dois titãs que comandam este confronto anunciado não podiam ser mais diferentes: Abagail (Whoopi Goldberg) e Randall Flagg (Alexander Skarsgård). Enquanto ela é a calma e a voz da razão, Flagg, ou The Dark Man, é um autêntico “tornado” que revira por onde passa e nem sempre age da forma mais provável. A lembrar um pouco o seu Eric de «True Blood», mas muito mais monstruoso.

O elenco é tão impressionante que até se dá ao “luxo” de contar com participações especiais de J.K. Simmons, Ezra Miller, Hamish Linklater e Heather Graham, entre outros. Além de um cameo do próprio Stephen King! Não obstante, o destaque terá de ir para o secundário Brad William Henke: o polícia terrível de «Orange is the New Black» é agora um homem grande e tonto, deslocado de uma sociedade que não o percebe. O nome Tom Cullen vai ficar na cabeça (e não, não é por causa do protagonista de «Knightfall»…).

Pictured (l-r): Amber Heard as Nadine Cross and Gordon Cormier as Joe of the the CBS All Access series THE STAND. Photo Cr: Robert Falconer/CBS ©2020 CBS Interactive, Inc. All Rights Reserved.

As interpretações fortes são um dos principais trunfos de «The Stand». Entre talentos já confirmados e outros nomes em crescimento (Owen, Jovan), as personagens que criam são uma grande ajuda para um argumento que vive muito dos momentos de tensão. Os diálogos são bem estruturados, um barómetro da emoção e das expetativas, sendo que os momentos de ação são também bem conseguidos… e até sangrentos. Já uma das maiores surpresas passa por uma banda sonora irreverente, inesperada e nem sempre “coerente” com o momento em que surge.

Uma boa aposta a cair no “sapatinho” perto do Natal. Trata-se de uma criação de Josh Boone e Benjamin Cavell (SEAL Team).

 

Texto originalmente publicado aqui

 

 

Sara Quelhas

Recent Posts

The Four Seasons: as estações da vida entre amigos

A Netflix tem uma nova aposta repleta de estrelas: «The Four Seasons». Quando uma decisão…

2 meses ago

Daqui Houve Resistência: do Norte soprou a liberdade

Tive acesso antecipado aos três primeiros episódios de «Daqui Houve Resistência», da RTP1. A série…

2 meses ago

Black Mirror: o futuro é agora – e continua desconfortável

Se o futuro tivesse um espelho, o reflexo seria mais sombrio do que esperamos… Como…

2 meses ago

Especial The Last of Us

Na Metropolis número 117, escrevo sobre a série do momento: «The Last of Us». Na…

2 meses ago

The Handmaid’s Tale: o que a distopia ainda tem para dizer

A sexta e última temporada de «The Handmaid’s Tale», com emissão em Portugal no TVCine,…

2 meses ago

Your Friends & Neighbors: roubo de aparências

Quando a carreira de Andrew Cooper desmorona, ele faz o que qualquer ex-magnata sensato faria:…

2 meses ago