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The Haunting of Bly Manor: um regresso (a casa) feliz

Depois de uma primeira temporada de sucesso, Mike Flanagan regressa com «The Haunting of Bly Manor», uma história sem ligação direta à antecessora «The Haunting of Hill House». Tive acesso antecipado ao êxito da Netflix, que promete voltar a agarrar a audiência a partir de sexta-feira, 9.

Eram muitas as dúvidas que se levantavam, na antecipação do take 2 de «The Haunting of Hill House», e, a bem do suspense, muitas vão continuar sem resposta até à estreia. Após uma temporada acima das expetativas, Mike Flanagan viu recair sobre si o peso da responsabilidade: não desiludir. Em vez de dar uma segunda temporada à história dos Crain, o criador apostou num formato de antologia e reinventou o seu elenco de luxo – ou a sua maioria – a partir de The Turn of the Screw, um livro publicado em 1898.

Victoria Pedretti (ex-Nell Crain) é agora Dani, uma norte-americana à procura de melhor sorte em Terras de Sua Majestade, na sequência de um evento traumático. A professora acaba por ser contratada pelo ausente tio Henry (Henry Thomas), como au pair da família Wingrave. A jovem será a principal cuidadora de duas crianças, os irmãos Miles (Benjamin Evan Ainsworth) e Flora (Amelie Bea Smith). Estes vivem em Bly Manor, na companhia de Hannah (T’Nia Miller, Years and Years), Jamie (Amelia Eve) e Owen (Rahul Kohli, iZombie), depois da morte fatídica dos pais.

 

The Haunting of Bly Manor: Ainda à procura da forever house…

Embora a nova incursão narrativa de «The Haunting of…» marque a diferença com um terror diferente, menos “assustador” e visceral, a qualidade mantém-se alta. O argumento é bastante coerente e, assim como aconteceu na S1, tem a capacidade de agarrar o público desde o primeiro momento. Tudo porque, tal como as personagens, a audiência também quer encontrar as “chaves” que vão revelar, por fim, os segredos de «The Haunting of Bly Manor».

Miles e Flora são duas crianças estranhas. Têm comportamentos antagónicos, são muito controladores dos movimentos noturnos na casa e apoiam-se um no outro para evitarem perguntas difíceis. Já Dani tenta compreender a sua nova realidade, ao mesmo tempo que é perseguida por fantasmas do passado – tal como acontece com Henry e Hannah. A governanta de Bly Manor, inclusivamente, “ausenta-se” durante as interações e raramente parece atenta ao que a rodeia.

A dimensão que a série atinge beneficia, e muito, da performance dos dois atores mais jovens, que conseguem brilhar num elenco já repleto de estrelas. Por sua vez, Victoria Pedretti e Oliver Jackson-Cohen voltam a reiterar a sua qualidade, ainda que estejam longe da sintonia a que nos habituaram quando interpretavam gémeos em «The Hauting of Hill House».

Embora os sustos sejam menos frequentes, o terror é uma constante: apenas se reinventa. A tensão é muito mais sonora (musical e não só) e subentendida, com alguns fantasmas a “espreitarem” no backstage das cenas, tal como acontecia na primeira temporada. Por outro lado, há uma sobreposição de um terror mais psicológico, tecnicista e de detalhe, que é coerente com a história que «The Haunting of Bly Manor» quer contar. Ao invés de se focar numa família e na casa que a uniu para sempre, a trama é agora mais individualista e os diálogos mais personalizados. De certa forma, é também mais concentrada, por se focar em menos personagens/storylines importantes.

Mas nem tudo é diferente neste regresso. «The Haunting of Bly Manor» repete a fórmula de recuperar o passado para explicar o presente das personagens, pelo que cada protagonista tem direito a um episódio pessoal. Ao mesmo tempo que, como não podia deixar de ser, são estabelecidas ligações com a atualidade e o perigo que, mesmo que subtilmente, se aproxima. Neste campo, há que destacar sobretudo os episódios 5 e 8.

«The Haunting of Bly Manor», assim como a antecessora, não é a típica série de terror. Embora respeite o género e as expetativas que este cria, Mike Flanagan procura elevá-lo através de um argumento complexo e sólido, que “mexe” com os espectadores e os desafia a participar. Seja procurando fantasmas no fundo das cenas, seja a trabalhar para conhecer melhor as personagens e para “fechar” os arcos que a trama deixa entreabertos.

A temporada completa de «The Haunting of Bly Manor» fica disponível esta sexta-feira, 9, na Netflix.

 

Texto originalmente publicado aqui

 

 

Sara Quelhas

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