Run: a metáfora dos dias, segundo Phoebe Waller-Bridge & Cia.

Só o elenco parece já ser o suficiente para agarrar a audiência ao ecrã a partir da próxima segunda-feira, 13. «Run», a mais recente aposta da HBO, é protagonizada por Merritt Wever e Domhnall Gleeson, e faz-se valer de três palavras mágicas que parecem ter a capacidade, por estes dias, de colar toda a gente ao ecrã para devorar uma série: Phoebe Waller-Bridge. Vi os primeiros cinco episódios da série, pela Metropolis, e mal posso esperar pelos três que faltam.

Imaginemos a seguinte situação. Alguém, depois de devorar a trilogia de Richard Linklater (Antes do Amanhecer, Antes do Anoitecer e Antes da Meia-Noite), começava a dizer um leque de coisas surreais que podiam ter acontecido aos protagonistas ao longo das suas viagens. Sem limites no que diz respeito a probabilidades ou bizarrias. Junta-se a isto o humor já reconhecível das séries produzidas pela Phoebe e traçam-se os primeiros contornos de «Run», uma série que ilustra a viagem impulsiva de Ruby (Merritt Wever, Nurse Jackie e Unbelievable) e Billy (Domhnall Gleeson, Harry Potter e Star Wars).

A multifacetada Phoebe Waller-Bridge junta-se a Vicky Jones, envolvida no argumento das suas «Crashing» e «Fleabag», para criar uma premissa inusitada mas bastante promissora. Ruby e Billy, ex-namorados no início da idade adulta, fazem um acordo: se algum dia ambos enviarem a mensagem Run, encontram-se numa estação e desaparecem durante uma semana, no fim da qual têm de decidir se querem ficar juntos ou não. Depois de várias tentativas sem retorno, de parte a parte, Ruby responde à mensagem de Billy e os dois rumam à viagem das suas vidas. Pelo caminho, encontram personagens muito bem conseguidas, com principal destaque para as de Phoebe e Archie Panjabi (The Good Wife, Blindspot).

«Run» é tudo aquilo que esperávamos. Há dúvidas, arrependimentos, mágoas entre personagens. Não há grandes artifícios visuais, mas a componente dramática é muito forte e tudo parece resultar em tragédia. Certamente que um encontro tão tardio, com vidas estabelecidas e relacionamentos longos com outras pessoas, não seria o despoletar de um romance épico e eterno. A efemeridade desta fuga da realidade é uma constante, pelo que a qualquer momento a viagem pode acabar em definitivo. O risco permanente aumenta a adrenalina  das personagens e, de certa forma, deixa a audiência alerta para cada sobressalto. E nem os momentos aparentemente mais óbvios acontecem como prevíamos.

O argumento ganha muito com Merritt e Domhnall, outrora promessas da representação agora em busca da confirmação. A atriz tem vingado na TV, enquanto o ex-Potteriano tem feito escala no cinema. Com ar trapalhão, linguagem explícita e desprendimento narrativo (a história não vive apegada a si própria), os protagonistas têm muita margem para evoluir e crescer, apesar das limitações de espaço e tempo. Aquilo que Vicky Jones alcança é verdadeiramente incrível na sua simplicidade que, a cada episódio de 20 e poucos minutos, nos deixa ansiosos por saber o que acontece a seguir. Infelizmente, «Run» não sairá de uma vez, mas sim semanalmente à segunda-feira. Absolutamente a não perder.

 

Sara Quelhas

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