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Reboot: uma espécie de multiverso em colisão

A Disney+ estreou recentemente em Portugal a série «Reboot», que proporciona um casamento feliz entre velhos conhecidos e talentos emergentes do pequeno ecrã.

Depois de criar e protagonizar a peculiar série «Crazy Ex-Girlfriend», Rachel Bloom regressa numa história imaginada por um dos criadores de «Uma Família Muito Moderna». A atriz repete, inclusivamente, alguns dos passos que fez para conseguir o seu lugar ao sol no CW: Hannah (Bloom) é uma argumentista ansiosa e algo traumatizada que tenta convencer a Hulu a fazer o reboot da bem-sucedida aposta «Step Right Up!», dos anos 2000, com o elenco original. Como a fórmula de sequelas e prequelas tem sido feliz para vários streamings, Hannah convence rapidamente a estrutura decisória e pode avançar com o desenvolvimento da sua série.

O que acontece quando esferas diferentes da vida de uma pessoa chocam de forma inesperada? É um “multiverso” à beira da rutura em «Reboot».

Ao contrário da narrativa original, muito leve e cómica, a argumentista ambiciona dar toque um pouco mais negro à história, revelando o segredo obscuro do protagonista e dando mais profundidade às personagens. O regresso é bem-visto pelo leque de atores, que desde então não encontra o mesmo sucesso, com alguns estereótipos à mistura. Reed (Keegan-Michael Key) vive uma altura complicada depois de nunca ter conseguido vingar no cinema, como ambicionava; Bree (Judy Greer) tem estado afastada da representação depois de um casamento muito mediático; Clay (Johnny Knoxville) é uma figura mais problemática à procura de redenção; e Zack (Calum Worthy) não fez a transição desejada da carreira infantil para a adulta, mostrando também uma maturidade abaixo do esperado.

A este conjunto de “almas perdidas”, algumas com histórias mal resolvidas entre elas, junta-se o criador original, Gordon (Paul Reiser, Mad About You), que tem um peso acima do esperado na vida de Hannah. Sem revelar em demasia o segredo de «Reboot», estamos a falar de uma série simples, mas complexa, que consegue equilibrar muito bem a dimensão criativa, mais ligada ao desenvolvimento de «Step Right Up!», com a vida pessoal de cada uma das suas complexas personagens. Além disso, o balanço entre comédia e drama é muito bem conseguido, revelando uma Rachel Bloom ao seu melhor nível e em excelente companhia.

Uma série curta, bem ritmada e promissora, que se vê com relativa facilidade e nos deixa à espera das próximas aventuras, tocando alguns dos temas recorrentes, e por vezes menos bonitos, dos bastidores da televisão. Não trazendo necessariamente nada de novo, no que diz respeito a séries de comédia no mesmo estilo, procura acrescentar em profundidade narrativa. A tentativa está lá, mas só o desenvolvimento da história poderá confirmar se foi bem-sucedida. Vamos ver se há segunda temporada.

 

Texto originalmente publicado aqui

 

Sara Quelhas

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