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Midnight, Texas: não é Bon Temps, mas podia ser

É a melhor cura para a ‘ressaca’ da série «True Blood», que terminou em 2014. Da mesma autora, Charlaine Harris, «Midnight, Texas» apresenta uma premissa sedutora, mas as personagens parecem tiradas a papel químico das anteriores.

A real, mas ficcionada, localidade de Bon Temps, antigo palco de «True Blood», é substituída pela imaginada Midnight que, embora fique no estado do Texas, teve como palco, nas gravações da primeira temporada, o Novo México. Aparentemente banal, Midnight é habitada por um sem-fim de figuras sobrenaturais, que encontram ali o conforto necessário para manterem uma vida minimamente normal (ou assim pensavam). No entanto, é também ali que o Mundo dos Mortos está mais próximo do Mundo Real, separado por uma barreira perigosamente ténue. E, quando um dos habitantes é assassinado, nada voltará a ser como antes.

Com réstias do humor que nos conquistou em «True Blood», «Midnight, Texas» tem a clara vantagem de ter um protagonista, Manfred Bernardo (François Arnaud), bem mais carismático do que Sookie Stackhouse (Anna Paquin). Além disso, ao contrário do que acontecia com a estrela maior da série desenvolvida pela HBO, os azares sofridos por Manfred não se apresentam por acaso, já que estão intimamente ligados aos seus poderes de medium, que o deixam mais susceptível ao universo sobrenatural que habita Midnight. Ainda assim, o seu interesse amoroso, Creek (Sarah Ramos), parece um ‘clone’ de Sookie (e também trabalha num restaurante!).

Para quem tem saudades de Pam (Kristin Bauer van Straten) e Eric (Alexander Skarsgård), há Olivia (Arielle Kebbel) e Lemuel (Peter Mensah). Para quem não esquece Sam Merlotte (Sam Trammell), os dotes de transformação surgem reiventados no reverendo Emilio Sheehan (Yul Vazquez). E, sem grande esforço, poder-se-ia nomear outros atributos ou traços de personalidade que parecem ‘clonados’ de «True Blood». Embora isso não seja necessariamente uma crítica, ganha contornos negativos quando força uma comparação entre as duas séries, com «Midnight, Texas» a revelar-se bem mais simples, com um elenco menos emblemático – ninguém é capaz de esquecer atores como Nelson Ellis, que faleceu recentemente, ou Carrie Preston – e com um humor menos feroz.

Em contrapartida, há mais equilíbrio para os lados do Texas, com as narrativas bem encaixadas e doses de mistério fortes o suficiente para manter o espectador ‘agarrado’ episódio após episódio. Sem grande alarido, «Midnight, Texas» cumpre o seu papel enquanto série de entretenimento, doseando os momentos de desenvolvimento das personagens e o lado predominante, o paranormal. Ainda assim, as profecias podem tramar o sucesso da série, com o (teimoso) anúncio de um ‘salvador’ que poderá mudar a sorte de Midnight. Desta forma, o místico volta a afectar o real para nos convencer da presença de um destino pensado desde o início, arriscando perigosamente uma revelação final abaixo das expetativas – depois de um hype alimentado durante vários episódios – como aconteceu, aliás, com Sookie Stackhouse em «True Blood».

Apesar das imprecisões e da multiplicação de ‘clones’ no argumento, resta saber o que Monica Breen e companhia vão ser capazes de fazer com o universo de Charlaine Harris. Após o sucesso de «True Blood», que conquistou o seu lugar próprio fora dos estereótipos literários da autora, «Midnight, Texas» tem de provar que é capaz do mesmo. Não obstante, a nova série da NBC é uma boa opção para ocupar as segunda-feiras, que mais não seja como ‘guilty pleasure’.

Este artigo foi originalmente publicado na Metropolis. Texto completo no link.

 

Sara Quelhas

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